A nova entrega da declaração de interesses de Luís Montenegro desencadeia reações e provoca questionamentos sobre a sua idoneidade política, em meio à polémica que antecede as eleições.
A demissão de Luís Montenegro da empresa Spinumviva colocou-o no centro de uma controvérsia que está a gerar ondas na cena política, especialmente com as eleições à porta, marcadas para 18 de maio. Apesar de ter transferido a propriedade da empresa para os filhos, as implicações da sua direcção continuam a afligir a sua liderança.
A recente entrega da declaração de interesses à Entidade para a Transparência (EpT), realizada em cima da hora, acendeu a polémica. A EpT confirmou que a declaração foi recebida em 30 de março, mas a legislação atual estabelece que o registo deve permanecer confidencial durante 30 dias. Montenegro acreditava que a primeira publicação ocorreria ao fim desse período, mas o impacto das revelações lançou dúvidas sobre a sua idoneidade.
Entre os novos clientes da Spinumviva listados por Montenegro estão a Rodáreas, o Instituto Técnico de Alimentação Humana (ITAU) e outras cinco entidades que têm contratos com o Estado. Esta situação não passou despercebida ao secretário-geral do PS, que questionou a idoneidade de Montenegro para liderar o país.
O ambiente deteriorou-se ainda mais quando o deputado Hugo Carneiro, do PSD, anunciou medidas para investigar a divulgação da informação sobre os clientes da Spinumviva. Carneiro pediu que o Grupo de Trabalho do Registo de Interesses no Parlamento solicitasse à EpT os registos de quem acedeu à declaração de interesses do primeiro-ministro.
Neste cenário tumultuado, o próprio Montenegro dissipou a responsabilidade, acusando o PS de estar por detrás da divulgação da informação comprometedora.
O clima de tensão atingiu o seu auge com declarações da oposição, que clamaram por um escrutínio mais rigoroso da conduta de Montenegro, insinuando que ele tentou ocultar dados cruciais da sua gestão política. Pedro Nuno Santos, do PS, sublinhou que a situação revela déficits sérios na transparência e na ética política, enquanto André Ventura, do Chega, e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, também exigiram uma resposta imediata e responsável por parte do primeiro-ministro.
As repercussões desta situação marcarão provavelmente os dias que precedem as eleições, lançando dúvidas sobre a capacidade de Montenegro de manter-se à frente do governo, à medida que os partidos acusam o PSD de estar “de cabeça perdida” nesta crise.