Economia

Viticultores do Douro organizam protesto devido a desafios crescentes

A poucos dias da vindima, viticultores do Douro expressam preocupações sobre escoamento, preços das uvas e falta de mão-de-obra, convocando uma manifestação no Peso da Régua.

30/06/2025 15:00
Viticultores do Douro organizam protesto devido a desafios crescentes

À medida que se aproxima a vindima, os viticultores do Douro sentem uma inquietação crescente face ao escoamento das uvas e à sua valorização no mercado. A situação complicada, que inclui um possível corte na produção de vinho do Porto, aumento das despesas e escassez de mão-de-obra, motivou a organização de uma manifestação agendada para quarta-feira no Peso da Régua, em Vila Real.

A dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Berta Santos, tem circulado pela região para distribuir panfletos e incentivar a participação na manifestação. “É alarmante a situação que se vive aqui. Se não houver uma intervenção significativa a favor dos pequenos e médios produtores, corremos o risco de ver partes do Douro abandonadas,” afirmou à agência Lusa.

Recentemente, Berta esteve em Armamar, onde sublinhou a crescente dificuldade que os viticultores enfrentam para manter as suas práticas agrícolas. O objetivo do protesto é mobilizar os agricultores para que a sua voz e preocupações sejam ouvidas pelo Governo.

Entre as principais reivindicações, destaca-se a defesa da manutenção do benefício na vindima de 2025, que permite a cada produtor destinar uma quantidade específica de mosto para a produção de vinho do Porto. O benefício foi definido em 90.000 pipas em 2024 e 104.000 em 2023, e os produtores temem cortes. “Não podemos aceitar reduções, pois esse benefício é crucial para a sobrevivência dos pequenos e médios agricultores na região. Precisamos de preços justos para as uvas, especialmente porque os custos de produção continuam a aumentar,” enfatizou Berta Santos.

O setor vitivinícola do Douro enfrenta já a terceira vindima consecutiva com dificuldades de escoamento, com várias empresas a limitarem as compras às uvas destinadas ao benefício. “E as restantes uvas, o que acontecerá com elas?”, questionou, evidenciando a incerteza que permeia o setor.

Celeste Marques, uma viticultora de 80 anos em Lamego, manifesta a sua luta para manter a vinha herdada, mas admite que as circunstâncias estão a tornar-se insustentáveis. “As vinhas acabarão por ficar ao abandono, pois não existem condições de trabalho e o custo dos produtos agrícolas é exorbitante,” afirmou. Com previsões de uma colheita inferior ao ano anterior, devido a doenças, Celeste recorda que o ano passado colheu apenas 12 pipas de vinho.

Manuel Figueiredo, de 61 anos, descreve a situação dos produtores como “extremamente complicada.” Com três hectares de vinha, ele colheu quatro pipas de benefício e já notou um declínio nas suas colheitas. “As despesas são cada vez mais altas e, se os cortes no benefício se mantiverem, o futuro dos agricultores será incerto,” alertou.

Por sua vez, Joaquim Carvalheira, de 70 anos, comentou a sorte de trabalhar com uma boa empresa que paga adequadamente por todas as uvas, sendo que ele mesmo sublinha a necessidade de ajuda familiar para manter a vinha. Para este ano, prevê uma colheita reduzida e já gastou bastante em tratamentos destinados a proteger as videiras.

E se António Lareiro, de 71 anos, não recebeu nada pela sua produção nos últimos três anos, Acácio Correia, de 67 anos, decidiu arrancar as suas vinhas e optar por macieiras e cerejeiras, alegando que “se a vinha não dá, é necessário mudar de rumo.”

A manifestação também irá exigir a proibição da compra de uvas a preços inferiores aos custos de produção, a promoção da aguardente regional na produção de vinho do Porto, e uma fiscalização mais rigorosa sobre a entrada de mostos e vinhos de fora da região, além da compra, pelo Estado, de excedentes de stocks das adegas cooperativas.

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