O Colégio de Cardeais, agora com um perfil mais global e diversificado, reflete novos desafios e vaivéns no seio da Igreja Católica à medida que se aproxima a eleição do sucessor de Papa Francisco.
O novo Colégio de Cardeais, que elegerá o sucessor de Francisco, é o mais diversificado da história da Igreja Católica, marcando uma renovação significativa e global. Com 135 cardeais eleitores, 133 deles presentes na Capela Sistina, observa-se uma mudança na predominância europeia e italiana.
Desde 2005, quando 115 cardeais participavam do conclave, ou mesmo nos conclaves de 1978 com 111, o número tem crescido substancialmente. Contudo, a nova composição é um reflexo do crescente dinamismo religioso fora da Europa, onde a Igreja está a lidar com novas realidades e desafios.
O conceito de uma Igreja de periferias, defendido por Francisco, fica evidente na inclusão de cardeais de países como Austrália, Japão e Costa do Marfim. Neste Colégio, 108 dos cardeais eleitores foram nomeados por Francisco, sublinhando a continuidade do seu legado.
Além disso, as discussões internas promovidas pelo Papa têm revelado uma Igreja em diferentes ritmos, onde a América Latina tem defendido com força movimentos progressistas, acompanhada por dioceses europeias que enfrentam o desafio da diminuição da prática religiosa.
A teologia da Libertação, que ganhou destaque nos anos 70 e 80, nele encontra eco, tal como as novas ideias surgidas nos anos 90 sobre a evangelização na Europa, que se tornaram parte de um discurso renovador mais vasto dentro da Igreja.
No contexto americano, a diversidade entre lideranças conservadoras e progressistas é notória, enquanto que em África, mesmo com o crescimento do evangelismo, a Igreja Católica continua a expandir a sua influência, apesar de ser confrontada com conflitos religiosos.
Em suma, num continente onde as guerras religiosas se intensificam, há uma resistência à mudança, mas com exceções notáveis como o uso de preservativos, abordado pela primeira vez em África.
A Ásia, por outro lado, mantém uma postura conservadora, com cardeais a defender tradições, embora o cardeal filipino Antonio Tagle tenha elevado a voz por uma abordagem mais sinodal.
No próximo conclave, que inicia na quarta-feira, 53 cardeais eleitores são oriundos da Europa, um número que marca uma diminuição acentuada em comparação com os últimos conclaves, refletindo uma nova distribuição de poder dentro da Igreja.
Em termos de representação, a Itália lidera com 17 cardeais, seguida pelos EUA e Brasil. Esta nova configuração, refletindo as designações de Francisco, é um claro indicador da evolução que a Igreja Católica busca implementar.
Com um total de 42 dioceses na Itália sem bispos, a tensão entre Francisco e a Conferência Episcopal Italiana assume destaque neste novo paradigma, onde a ausência de clericalismo é cada vez mais premente.
O Brasil, com 7 cardeais, e Portugal, com 4, mostram que, apesar da evolução, as tradições também têm o seu lugar. Desde o primeiro conclave em 1274, a escolha do novo líder da Igreja tem sido um processo intrinsecamente ligado à imagem da instituição.