Cortes de orçamento e rivalidades internacionais ameaçam a exploração espacial, revela líder da missão Dragonfly, que defende a colaboração global na ciência.
Catherine Neish, astrobióloga e líder da equipa de astrobiologia da missão Dragonfly da NASA, alertou para um cenário complicado, onde tensões geopolíticas e um drástico corte de 47% no financiamento para investigação científica nos EUA constituem sérios obstáculos à exploração espacial.
Recordando a histórica desconfiança entre os EUA e a China, Neish referiu que a legislação atual impede a cooperação direta entre cientistas americanos e os seus homólogos chineses, agravando num contexto que já se mostra tenso com a recente guerra comercial instaurada pelo Governo de Washington. Segundo a responsável, estes fatores reduzem as oportunidades de colaboração essenciais para o avanço de missões futuras.
Nesta mesma perspetiva, numa sessão paralela na Cimeira das Universidades da Ásia, realizada em Macau, um investigador do Instituto de Tecnologia de Harbin defendeu que a investigação aeroespacial não deveria ser interferida pela geopolítica. Recordou ainda a emblemática missão Apollo-Soyuz de 1975, que provou que a cooperação era possível mesmo em tempos de Guerra Fria.
O académico, Song Kai, enfatizou a importância de manter a pesquisa científica isolada das disputas políticas e evidenciou como colaborações internacionais têm vindo a potenciar projetos com custos reduzidos e soluções inovadoras, como no exemplo do programa espacial indiano.
Em quepes partilhada, Neish destacou que a disponibilização de bases de dados em múltiplos idiomas, antes restritas ao mandarim, é um passo significativo para assegurar a partilha de conhecimento entre cientistas de todo o mundo. Num contexto em que os cortes orçamentais podem favorecer a ascensão de programas espaciais de países como China, Índia e Japão, a união de esforços internacionais passa a ser imperativa para superar os desafios que se avizinham.