Conselheiros das comunidades portuguesas na Alemanha expressam ceticismo sobre possíveis mudanças após a eleição de Friedrich Merz como novo chanceler.
Os conselheiros das comunidades portuguesas na Alemanha demonstram uma forte convicção de que as políticas e condições para os cidadãos portugueses permanecerão inalteradas com a ascensão de Friedrich Merz ao cargo de chanceler, previsto para 6 de maio. "A comunidade portuguesa é de alguma forma apolítica em relação ao contexto alemão. A maioria, provavelmente, nem conhece quem compõe a coligação governamental. A preocupação acerca das mudanças não se reflete no dia-a-dia da nossa comunidade," afirmou Manuel Machado à Lusa.
Machado, que reside em Burscheid, nas proximidades de Colónia, expressou o desejo de que não fosse necessário formar uma coligação de governo, como a que une a União Democrata-cristã (CDU), partido da ex-chanceler Angela Merkel, e o Partido Social Democrata (SPD).
As eleições antecipadas em 23 de fevereiro dessa ano e a subsequente formação de uma "grande coligação", embora desejada, trazem preocupações, dado o crescimento do partido de extrema-direita AfD, que, segundo algumas sondagens, tem acompanhado a CDU no apoio popular.
"Prometeram mudanças, mas agora estão a seguir um caminho oposto ao que foi anunciado. Acredito que, caso novas eleições acontecessem, partidos indesejados como o AfD teriam um bom desempenho, uma vez que a população manifesta frustração com as promessas não cumpridas," comentou António Horta.
Para Horta, a comunidade portuguesa está bem integrada, afirmando: "Não vejo alterações significativas. Somos europeus e respeitamos a diversidade étnica e religiosa." Ele reside na Alemanha desde 1973.
Entretanto, Merz gerou controvérsia ao romper com uma promessa importante, ao abraçar uma moção no Bundestag com o apoio do AfD, considerado uma ameaça à democracia alemã. Os seus colegas conservadores enfatizam um endurecimento das políticas migratórias.
Mário Botas, que imigrou para a Alemanha em 1966, expressou dúvidas sobre a capacidade do governo em efetuar mudanças reais, apesar das promessas feitas. "Embora os políticos afirmem que podem provocar transformações, muitos alemães estão céticos em relação a isso," analisou.
Uma sondagem recente do instituto Forsa para a revista Stern indica que apenas 21% dos inquiridos consideram Merz confiável, uma descida significativa em relação aos meses anteriores. Adicionalmente, apenas 40% o veem como um líder forte, refletindo uma crescente desconfiança no seu governo.
Botas também alertou para as dificuldades que novos migrantes enfrentam ao chegar à Alemanha. "Muitos destes cidadãos com origem em centros urbanos de Portugal subestimam a necessidade de se prepararem para a vida aqui. Muitas vezes acabam a trabalhar em sectores precários, como a construção civil, a gastronomia ou serviços de limpeza," revelou.
"Frequentemente, esses migrantes acabam por se empregar em pequenas empresas que não cumprem as suas obrigações legais e laborais, onde são mais facilmente explorados, principalmente em comparação com trabalhadores locais," finalizou.