A comissão da ONU expressa preocupação com os confrontos sectários na Síria que ameaçam a frágil paz e instam todas as partes a priorizarem o diálogo e a proteção dos civis.
A comissão da ONU encarregada de investigar abusos de direitos humanos na Síria manifestou, esta sexta-feira, a sua preocupação em relação aos recentes confrontos entre as forças de segurança e a comunidade drusa, destacando que este clima de violência se tornou uma séria ameaça à já delicada paz do país.
Num comunicado, a comissão alertou que a "recentemente intensificada violência e os conflitos de natureza sectária" complicam consideravelmente o esforço por uma paz durável que respeite os direitos humanos. A mesma instou todas as partes envolvidas a preferirem o diálogo e a protegerem os civis, ao mesmo tempo que garantem o acesso humanitário, evitando, assim, deslocações forçadas.
Além disso, os ataques israelitas realizados em território sírio, que alegadamente visam proteger a comunidade drusa, podem provocar ainda mais divisão e sofrimento entre os civis. A presidência síria condenou um ataque aéreo israelita, ocorrido recentemente junto ao palácio presidencial em Damasco, caracterizando-o como uma ação “excessiva” que visa "desestabilizar" o país. O governo sírio apelou, além disso, à comunidade internacional e países árabes para apoiarem Damasco face a estes ataques que violam o direito internacional.
Embora a mídia síria tenha relatado que o ataque não resultou em vítimas, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, confirmou a operação, referindo-se a ela como uma "mensagem clara" ao regime sírio, garantindo que situações ameaçadoras para a comunidade drusa não serão toleradas.
Em outro ataque, atribuído a Israel, quatro pessoas perderam a vida em uma propriedade na região de Suwayda, conforme informou a agência oficial de notícias Sana. Testemunhas relatam que um drone israelita foi alvo de tiros enquanto sobrevoava a área, respondendo com um bombardeio.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, o número de mortos em confrontos conectados a esta nova onda de violência ascendeu a 101, embora ainda não existam números oficiais. Os confrontos começaram após a divulgação de um vídeo falsificado com um líder druso insultando o profeta Maomé.
António Guterres, secretário-geral da ONU, também se manifestou contra os ataques israelitas, reiterando que é crucial que cessem e que Israel respeite a soberania e a integridade territorial da Síria.
Na quinta-feira, um influente líder druso criticou o regime de Damasco, denunciando uma “campanha genocida” contra a sua comunidade após os recentes confrontos. A comunidade drusa, que habita nas regiões de Israel, Líbano e nos Montes Golã ocupados, é uma minoria que tem enfrentado tensões crescentes desde a queda do regime de Bashar al-Assad.
Os líderes religiosos drusos do Líbano pediram calma e coordenação das autoridades sírias para contornar a situação atual, reiterando a necessidade de moderação e o perigo das provocações sectárias.
A atual onda de violência reacende as preocupações sobre possíveis confrontos sectários, especialmente após os massacres direcionados à comunidade alauita e a instabilidade que se seguiu.