A Influência da Microbiota Intestinal na Saúde: Uma Abordagem Essencial
Comemora-se hoje o Dia Mundial do Microbioma. A nutricionista Conceição Calhau revela a essencialidade da microbiota intestinal na prevenção e tratamento de várias doenças.

No quadro do Dia Mundial do Microbioma, celebrado a 27 de junho, a nutricionista e investigadora Conceição Calhau, professora catedrática da NOVA Medical School, sublinha a relevância da microbiota intestinal na saúde, particularmente na prevenção e tratamento de doenças.
Nas últimas duas décadas, a saúde do intestino ganhou destaque nas discussões científicas e médicas. Conceição Calhau apresenta a microbiota intestinal como um órgão metabólico, endócrino e neuroendócrino fundamental para a manutenção da saúde metabólica e imunológica.
Surpreendentemente, possuímos mais genes e células de origem microbiana do que humano. Enquanto os genes humanos permanecem constantes ao longo da vida, os genes microbianos podem variar. A espécie humana progrediu em grande parte graças à influência destes microrganismos.
Antigamente, as bactérias eram frequentemente vistas apenas como patogénicas. Contudo, a evolução do conhecimento médico e científico transforma esta visão, enfatizando o papel benéfico das bactérias.
A microbiota desempenha três funções principais. Em primeiro lugar, é responsável pela produção de vitaminas essenciais, como a K, folato e D. Em segundo lugar, tem um papel crucial na digestão, mediando a interação entre as enzimas digestivas humanas e as produzidas pelas bactérias.
Eventos que alteram a composição desta comunidade microbiana podem resultar em problemas digestivos. Em terceiro lugar, a microbiota regula a expressão de genes, sendo fundamental na produção de hormonas intestinais e na função imunológica. A imunotolerância, que se estabelece nos primeiros anos de vida, depende de um microbiota saudável, crucial para o reconhecimento de ameaças ao organismo.
Adicionalmente, o microbiota intestinal é fascinante na regulação do peso, influenciando o controle do apetite e as decisões metabólicas sobre o armazenamento de gordura.
Desde o nascimento até à diversificação alimentar, a composição do microbiota evolui de acordo com fatores como a saúde da mãe, tipo de parto e alimentação, com diferenças acentuadas entre indivíduos. No entanto, por volta dos 2-3 anos, a microbiota atinge uma estrutura básica estável.
Na infância, o ambiente - urbano ou rural - a presença de animais, a exposição a antibióticos e os hábitos alimentares moldam o microbiota. Ao longo da vida, fatores como exercício físico, alimentação, stress e medicamentos também desempenham um papel crucial.
Todo este conhecimento revela como a dieta, particularmente os prebióticos (alimentos que favorecem as bactérias benéficas) e probióticos (microrganismos que apoiam a digestão), são essenciais para a saúde intestinal.
A disbiose, ou desequilíbrio da microbiota, pode resultar em patologias como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Alterar a composição do microbiota, através de estratégias como a utilização de prebióticos, probióticos e até transplante de microbiota fecal, surge como uma esperança no tratamento de várias doenças.
É fundamental um diagnóstico preciso, pois a relação entre o microbiota intestinal e as doenças é considerável. Uma abordagem holística pode ser crucial na prevenção e tratamento das principais causas de morbilidade da atualidade.