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O Legado de Francisco: Divisões na Igreja em Tempos de Mudança

há 4 horas

A Igreja Católica enfrenta uma profunda divisão entre conservadores e progressistas, refletindo as mudanças introduzidas por Francisco e o legado do Concílio Vaticano II.

O Legado de Francisco: Divisões na Igreja em Tempos de Mudança

A Igreja Católica que Francisco deixa ao seu sucessor está a atravessar um momento de significativa polarização. O surgimento de duas correntes, uma conservadora que anseia por um retorno a práticas mais tradicionais e outra progressista que defende a continuidade de reformas estruturais, é um reflexo do impacto do Concílio Vaticano II. "É da herança desse concílio que estamos a falar," observa Austen Ivereigh, um dos biógrafos de Francisco.

Realizado no início da década de 1960, o Concílio Vaticano II trouxe alterações significativas, como a abolição de rituais em latim e o estímulo ao diálogo ecuménico, que não foram bem acolhidos por diversos sectores da Igreja. Francisco, mais do que seus predecessores, teve um forte impulso para promover uma cultura de diálogo interno, semelhante ao sistema de centralismo democrático que caracteriza alguns partidos marxistas-leninistas, permitindo que as discussões em várias camadas da Igreja levassem a propostas a serem consideradas na Assembleia Eclesial de 2028.

Em 2021, o Papa lançou um "debate sem temas tabu" com o Processo Sinodal, que visava incentivar a participação dos leigos, retirando o monopólio dos religiosos sobre a supervisão das propostas. Este movimento, influenciado pela teologia da libertação em várias comunidades católicas latino-americanas, tem sido uma resposta às crescentes divisões entre os jovens e a fé tradicional.

Durante este processo sinodal, a Alemanha tomou a iniciativa de discutir uma série de questões contemporâneas da Igreja, incluindo as respostas à crise de abusos sexuais. No entanto, em 2022, a Santa Sé desautorizou este Caminho Sinodal, considerando que as decisões tomadas não detinham a autoridade necessária em matéria de doutrinas e governação, podendo causar divisões na comunhão eclesial.

Em meio a debates que tocam no celibato, na participação das mulheres e na aceitação das relações homossexuais, Francisco foi criticado por um segmento conservador ao aprovar o documento Fiducia Supplicans, que permite a bênção de casais em situações "irregulares". Na sua autobiografia, ele reafirma a acolhida de todos, sem exceções, e condena as penalizações contra homossexuais em mais de 60 países, sublinhando que "a homossexualidade não é um crime, mas uma realidade humana".

Embora Francisco seja visto como um Papa progressista, muitos movimentos católicos consideram que suas ações foram insuficientes. Essa tensão é explorada por grupos radicais que pedem um regresso à tradição pré-Vaticano II, como a Fraternidade São Pio X, que criticam as reformas promovidas. Contudo, mesmo dentro do colégio cardinalício, as vozes conservadoras têm peso, tendo sido nomeadas em grande parte por Bento XVI, e defendem uma visão de "hermenêutica da continuidade" para o Concílio Vaticano II.

Com o conclave agendado para o dia 7 de maio, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco recairá sobre 133 cardeais votantes, sendo necessário um apoio de dois terços para a eleição. A luta entre as correntes conservadoras e progressistas será fundamental para determinar o futuro da Igreja. Nos bastidores, nomes como Peter Erdo e Peter Turkson podem emergir como candidatos que conseguirão aglutinar apoio, mantendo sempre a tensão entre a tradição e a inovação.

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