Ex-primeiro-ministro José Sócrates classifica acusações sobre TGV de "fábula sem fundamento"
José Sócrates defende-se em tribunal, afirmando que as acusações relativas ao TGV são infundadas e destinadas a desvirtuar o interesse público.

À saída do tribunal, durante a pausa para o almoço no quinto dia do julgamento da Operação Marquês, José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal, contestou as alegações que o envolvem em atos de corrupção relacionados com o projeto do TGV. Ele descreveu a acusação como uma "fábula sem fundamento", sustentando que manipular ministros para a execução de atos ilícitos é "absolutamente falso".
Durante o seu depoimento, Sócrates enfatizou que a cláusula discutida no contrato de concessão não favorecia a empresa Lena e que sempre buscou agir em prol do interesse público. Para ele, a situação era "razoável" e "compreensível" no contexto da época. Além disso, lembrou que tanto o Tribunal Arbitral como o Tribunal de Instrução cumpriram o mesmo entendimento sobre a cláusula em questão.
A polêmica gira em torno de uma cláusula que previa a indemnização do Estado ao vencedor do concurso para a construção do troço Poceirão-Caia, caso o projeto fosse chumbado pelo Tribunal de Contas, algo que ocorreu há mais de 15 anos.
Sócrates criticou as acusações, alegando que é absurdo ser culpado por um projeto que nunca se concretizou e que as referidas indemnizações nunca existiram. Lamentou ainda ser acusado de manipular uma cláusula específica, que segundo ele "vale milhões", e levantou a pergunta: "Isto não é um bocadinho absurdo?"
Como defesa, recordou que o seu governo afastou o então presidente da RAVE, Ribeiro dos Santos, de quem afirma não ter qualquer conhecimento. Acusações do Ministério Público que afirmam que esta destituição foi apenas uma forma de encobrir uma suposta trama foram qualificadas por Sócrates como "histórias da carochinha", desprovidas de fundamento.
Atualmente, José Sócrates enfrenta 22 acusações, incluindo três por corrupção, por supostamente ter recebido dinheiro em troca de favores ao grupo Lena, ao Grupo Espírito Santo (GES) e a um projeto em Vale do Lobo, no Algarve. O processo implica um total de 21 arguidos, que respondem conjuntamente por 117 crimes económico-financeiros.
O julgamento, iniciado em 3 de julho, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, contará com mais de 650 testemunhas. A maioria dos arguidos tem negado qualquer prática ilícita.