Um estudo revela que mais de 27% dos trabalhadores sente ter vivido assédio laboral. Especialistas pedem a implementação de entidades de arbitragem para lidar com esta problemática.
Um novo estudo realizado pelo Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (Labpats) indica que o assédio laboral está a crescer nas organizações. A pesquisa será apresentada a 14 de novembro na Universidade Lusófona de Lisboa e mostra que a percentagem de trabalhadores que afirmam ter sido vítimas de assédio aumentou de 16,5% em 2021/22 para 20% em 2023, alcançando 27,7% em 2024.
A coordenadora do estudo, a psicóloga Tânia Gaspar, expressou preocupação com a variação dos dados, que oscila entre 15% e 36% conforme as empresas. “O aumento da conversa sobre este tema tem levado as pessoas a estarem mais alertas”, explicou. Tânia Gaspar afirmou ainda que, ao falar de assédio laboral, não se deve focar apenas no assédio sexual, mas também em formas subtis, como a exclusão social de um trabalhador.
Além disso, a psicóloga destacou a ligação entre assédio laboral e saúde mental. “As pessoas que são vítimas de assédio têm, em geral, menos bem-estar psicológico. É um ciclo vicioso.” Tânia Gaspar mencionou que o aumento dos casos de síndrome de 'burnout' pode muitas vezes estar relacionado com situações de assédio. “Os sintomas são claros, desde a ansiedade antes de enfrentar situações difíceis até o esgotamento emocional”, afirmou.
Os dados do Labpats revelam também um aumento no número de pessoas com sintomas de 'burnout', com aqueles que apresentam um sintoma a subir de 12,9% em 2021/22 para 17,8% em 2024. O número de pessoas sem sintomas diminuiu, o que indica uma mudança preocupante no ambiente de trabalho.
Tânia Gaspar fez uma ligação entre o clima social que se vive atualmente e o aumento do assédio laboral, indicando que a hostilidade e a intolerância observadas na sociedade refletem-se também no ambiente de trabalho. “As relações entre colegas e lideranças tornaram-se mais tensas, e a forma como as pessoas se tratam reflete essa mudança”, explicou.
A especialista também sublinhou que muitos trabalhadores não sabem a quem reportar casos de assédio, o que intensifica a sensação de vulnerabilidade. Em resposta a esta lacuna, sugeriu a criação de entidades externas de arbitragem, destacando a importância da confiança e neutralidade nesses procedimentos. “As organizações devem deixar claro desde o início que o assédio não é tolerado. Essa mensagem deve ser reforçada por toda a hierarquia.”
Adicionalmente, Tânia Gaspar defendeu que as lideranças também precisam de apoio, pois muitas vezes são elas que, sob stress e pressão, acabam por apresentar comportamentos inadequados com as suas equipas.
O Labpats continua a analisar questões de saúde e bem-estar no trabalho, contribuindo para a definição de políticas que impactem positivamente a vida profissional dos trabalhadores.