A nova investigação do Labpats revela que três em cada quatro trabalhadores estão a perder a capacidade de lidar com desafios, evidenciando uma deterioração no ambiente laboral e um aumento do consumo de substâncias.
Um estudo recente conduzido pelo Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (Labpats) aponta que a gestão do stress nas organizações se agravou significativamente. Mais de 75% dos trabalhadores sente que as dificuldades se acumulam a um ponto em que não conseguem superá-las.
De acordo com a pesquisa, que envolveu 3.822 profissionais de diversas gerações nas áreas da educação, saúde e gestão, 55% dos participantes afirmaram não ter controle sobre os aspetos importantes nas suas vidas. Além disso, 81,5% relataram sentir falta de confiança na sua capacidade de resolver problemas cotidianos.
Em comparação com investigações anteriores, "na edição de 2024, verifica-se um aumento do número de profissionais que se sentem incapazes de controlar a sua vida, refletindo uma crescente pressão no ambiente de trabalho", destacou a psicóloga e coordenadora do estudo, Tânia Gaspar.
Tânia também expressou a sua preocupação sobre o aumento do consumo de substâncias como medicamentos psicotrópicos, tabaco e álcool, identificando um padrão preocupante. "As pessoas procuram formas de escapar das suas realidades difíceis, com as mulheres a recorrerem mais a psicotrópicos e os homens a aumentarem o consumo de álcool", afirmou.
O estudo ainda revela um aumento do absentismo e do presentismo, onde 10,1% dos profissionais manifestam elevado nível de absentismo, enquanto 20,9% revelam produtividade reduzida mesmo estando presentes no trabalho.
Os horários de trabalho inadequados ao ritmo biológico dos trabalhadores têm contribuído para estes fenómenos. "Conheço um caso de alguém que brilha no trabalho, mas que está prestes a pedir demissão porque os horários convencionais não funcionam para ele", exemplificou a especialista.
A especialista sugeriu que as empresas devem estar mais atentas à individualização dos horários, buscando alinhar as capacidades dos trabalhadores com as exigências das suas funções. "A chave para o sucesso é que tanto as empresas quanto os trabalhadores queiram alcançar resultados eficazes, mesmo que isso signifique uma reavaliação dos moldes existentes", concluiu.
O estudo do Labpats, que será apresentado em Lisboa no dia 14, indicou ainda uma leve melhoria em aspectos como ética, compromisso da liderança e condições de teletrabalho. Contudo, os riscos relacionados com saúde mental persistem, assim como a responsabilidade social e a escassez de recursos de saúde.