Académicos destacam que a imigração e a difusão de sondagens fraudulentas são temas centrais de desinformação na atual campanha eleitoral em Portugal.
A atual campanha eleitoral em Portugal está a ser marcada pela disseminação de desinformação, com foco em questões relacionadas com a imigração e a divulgação de sondagens questionáveis. Segundo a investigadora de comunicação política da Universidade de Lisboa, Susana Salgado, "tem-se verificado a circulação de sondagens falsas nas redes sociais, provenientes de empresas não credenciadas pela ERC [Entidade Reguladora da Comunicação], cujas metodologias não garantem credibilidade".
Além disso, Salgado observa que "a publicação diária de sondagens pode ser uma decisão editorial duvidosa, pois pode levar à manipulação da opinião pública, mesmo que não haja intenção maliciosa".
João Pedro Batista, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, refere que a imigração é utilizada para "normalizar discursos que criam ambientes de insegurança", explorando medos e ansiedades da população para afetar a estabilidade social. Batista caracteriza a desinformação como "oportunista", dependendo dos contextos e situações atuais.
Para a professora Sara Pina, da Universidade Lusófona e Universidade Nova de Lisboa, a imigração surge nas mensagens da campanha eleitoral como um exemplo claro de desinformação, afirmando que a ligação entre imigração e aumento da criminalidade é "uma avaliação errónea, enganosa, mas fácil de perpetrar".
O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, Nelson Ribeiro, aponta que "muitos eleitores sentem que o seu estilo de vida está em risco, e, nesse contexto, surgem bodes expiatórios, frequentemente imigrantes". Esta fragilidade na perceção social facilita a aceitação de conteúdos falsos.
"Os principais partidos, como o PS e o PSD, ignoraram a questão da imigração durante anos, criando um ambiente propício para que a desinformação se proliferasse", ressalta Ribeiro, sublinhando que o reconhecimento de descontrole nesta área abriu portas à criação de narrativas enganosas.
Em suma, Ribeiro conclui que as sondagens a circular atualmente carecem de fundamentação sólida, produzindo informações que vão além dos factos reais, contribuindo assim para o aumento da desinformação neste período eleitoral.