Oposição zimbabueana denuncia "farsa judicial" nas investigações do massacre de Gukurahundi
O partido ZAPU criticou as audiências sobre o massacre de Gukurahundi, considerando-as uma "farsa da justiça" e apelando por um processo transparente e com testemunhos.

As audiências a respeito do massacre de Gukurahundi, ocorrido entre 1982 e 1987 e que resultou na morte de cerca de 20.000 pessoas, foram amplamente contestadas pela União do Povo Africano do Zimbabué (ZAPU), conforme reportado pela agência de notícias EFE.
Sibangilizwe Nkomo, líder da ZAPU e filho do falecido vice-Presidente Joshua Nkomo, expressou preocupações sobre a legalidade e os procedimentos das audiências que começaram na última sexta-feira, no Tribunal Superior de Bulawayo. Nkomo argumentou que o processo é uma "farsa da justiça" para as comunidades de Matabeleland e Midlands, diretamente afetadas pelos massacres.
O partido opõe-se ao caráter fechado das audiências, que estão a decorrer sem cobertura mediática, e Nkomo instou os seus membros a não se envolverem em um processo que considera envolto em segredo e controvérsia. Ele defendeu que os responsáveis pelas atrocidades precisam de prestar depoimento, já que muitos ainda estão vivos.
Em julho de 2024, o Presidente Emmerson Mnangagwa anunciou o início de investigações sobre os massacres dirigidos à minoria ndebele na década de 1980. A operação Gukurahundi, considerada uma limpeza étnica, foi realizada pela Quinta Brigada do Exército Nacional do Zimbábue sob as ordens do então Presidente Robert Mugabe. A ONG Genocide Watch classifica estes atos como genocídio.
As audiências que tiveram início na sexta-feira contaram com a presença de 72 líderes tradicionais das regiões afetadas, enquanto Matshane Nkumalo, presidente do Conselho dos Chefes, afirmou que não existem ordens judiciais que impeçam o processo de avançar.
O ativista Obert Masaraure, do Fórum de ONG pelos Direitos Humanos do Zimbábue, apoiou a contestação do ZAPU, argumentando que as audiências são uma tentativa do governo de encobrir as atrocidades cometidas. Ele pediu uma comissão internacional independente para investigar os homicídios.
De notar que Mnangagwa, que está no poder desde 2017, atuava como ministro da Segurança do Estado durante os massacres de Gukurahundi.