Novo projeto de Siza Vieira transforma Avenida da Ponte no Porto

O arquiteto Álvaro Siza apresentou hoje, na sede da Câmara do Porto, um ambicioso projeto de loteamento para a Avenida da Ponte. Este plano integra habitação, edifícios destinados a serviços culturais, um amplo jardim, uma praça e um miradouro com vista privilegiada.

Durante a sessão, o vereador para o Urbanismo e Espaço Público, Pedro Baganha, destacou a importância deste espaço urbano que há muito aguardava uma resolução. Siza fez ainda referência aos projetos anteriores que tinha idealizado em 1968 e 2001, os quais não foram concretizados.

A Avenida D. Afonso Henriques, conhecida como "Avenida da Ponte", estabelece uma ligação entre o tabuleiro superior da Ponte Luís I e a Praça de Almeida Garrett, separando as zonas da Estação de São Bento e da Sé.

No lado poente, onde se localizava o Mercado de São Sebastião, que recentemente começou a ser demolido, está previsto um edifício habitacional que refletirá a tipologia arquitetónica típica do Porto, ajudando assim a recuperar a Travessa de São Sebastião.

Contígua a este espaço, serão construídos mais dois edifícios voltados para habitação, que preencherão a rua de Corpo de Guarda. Junto à Sé, está também previsto um edifício para serviços culturais, acompanhando uma nova rua pedonal e um grande jardim.

No lado oposto, perto da Estação de São Bento, serão erigidos três edifícios residenciais que concluíram a rua Chã, juntamente com um segundo edifício cultural e um miradouro integrado na escarpa em pedra.

O número de fogos projetados na Avenida da Ponte está estimado em cerca de 40, um limite imposto pela classificação da zona como Património Mundial pela UNESCO.

Baganha sublinhou a relevância de preservar a atmosfera tradicional deste espaço histórico, afirmando: "Estamos a lidar com Património da Humanidade, que tem uma escala, vivência e atmosfera únicas. O projeto em discussão reforça essa essência típica do centro do Porto."

Quanto ao tipo de habitação a ser desenvolvida, o vereador fez notar que as eleições autárquicas se aproximam, indicando que a decisão caberá ao futuro executivo. "Se este executivo atual, com esta administração, continuar no poder, é provável que as habitações permaneçam na esfera municipal, mas o caráter e tipo de habitação ainda não estão definidos," esclareceu.

Questionado se lamentava a falta de concretização dos seus projetos anteriores, Siza respondeu com humor, afirmando que "um arquiteto não pode se perder em mágoas, caso contrário seria uma situação insustentável."

No passado dia 25 de março, a empresa municipal Porto Vivo SRU assinou um contrato de 300 mil euros com Siza para o desenvolvimento deste projeto de loteamento, que se encontra atualmente em fase de recolha de pareceres técnicos antes da consulta pública.

Avenida da Ponte tem uma história marcada pela demolição de várias habitações no final dos anos 40, que permitiram uma nova ligação rodoviária, em que a topografia dificultou outras soluções, dada a criação de um espaço urbanístico direto nesta área.

Deste modo, ao longo dos últimos 70 anos, foram apresentados diversos projetos para preencher o vazio deixado pelas demolições, e este último de Siza representa a terceira proposta para esta zona da cidade.