Militantes da IL contestam abstenção em caso de ataque à companhia de teatro
Mais de 50 membros da IL manifestaram o seu descontentamento pela abstenção do partido em condenar o ataque à Barraca, considerando-a uma falha na defesa das liberdades individuais.

Um grupo de mais de 50 militantes da Iniciativa Liberal (IL) expressou hoje a sua insatisfação relativamente à abstenção do partido no voto de condenação do ataque à companhia de teatro "A Barraca". Na sua visão, esta atitude demonstra que "alguns liberais se esqueceram dos seus princípios e permaneceram em silêncio frente à extrema-direita".
A abstenção da IL faz parte de um texto que resumia os projetos apresentados pelo PAN, Livre, BE e PCP, voltado para a condenação dos ataques violentos sofridos por membros da companhia de teatro no passado dia 10 de junho. O tema foi debatido na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias nesta quarta-feira.
Na carta, que foi divulgada pelo jornal Público e a que a agência Lusa teve acesso, os militantes afirmam que "esta abstenção não nos representa, traz desconforto e necessita de uma explicação por parte da liderança do grupo parlamentar". Eles manifestaram a sua “tristeza e indignação” com a posição de Rui Rocha, deputado da IL na comissão, sublinhando que o partido "deve ser um defensor de todas as liberdades" e não apenas "um agente de manobras políticas ou crenças pessoais que não estão em consonância com a missão do partido".
Os militantes alertam que “num momento em que o ódio se liberta e ameaça a democracia, um partido liberal não pode ter dúvidas quanto à sua essência: lutar contra os propagadores do ódio e proteger os direitos fundamentais, sem hesitar na escolha de um lado".
Criticando a abstenção, destacam que "sempre que um partido liberal se abstém diante de agressões às liberdades individuais, trai a história do liberalismo, envergonha os seus membros e confunde os eleitores: a abstenção não é moderação, é conivência”. Além disso, consideram inaceitável que um deputado da IL não assuma uma postura clara e corajosa alinhada com os princípios do partido.
Entre os signatários da carta estão figuras conhecidas como Nuno Morna, antigo deputado da IL na Assembleia Legislativa da Madeira, e outros conselheiros nacionais.
Em resposta, Rui Rocha fez uma declaração de voto onde reafirma que o Grupo Parlamentar da IL "condena de forma inequívoca as agressões" contra "A Barraca". No entanto, ele argumenta que a abstenção foi uma medida cautelosa para evitar que o parlamento interfira nas motivações políticas dos atos, defendendo a separação de poderes e a necessidade de não politicizar a justiça.
Para Rui Rocha, a justificação para a abstenção relaciona-se com a qualificação política dos factos, não com a rejeição da violência ou a solidariedade com as vítimas.