Justiça francesa penaliza traficantes de pessoas após naufrágio trágico na Mancha
Nove indivíduos foram condenados a penas de prisão pela morte de migrantes no Canal da Mancha, destacando a gravidade do tráfico humano.

Nove traficantes de pessoas, incluindo curdos e afegãos, foram sentenciados hoje em França a penas de prisão por sua responsabilidade num naufrágio que resultou em oito mortes no Canal da Mancha, em dezembro de 2022.
Três dos réus, um deles em fuga, receberam penas de oito anos de prisão, enquanto os restantes foram condenados a sete anos. As sanções incluem também multas que variam entre 50.000 e 100.000 euros, além da proibição de entrada em solo francês.
Este incidente é um dos mais letais dos últimos anos, a seguir ao naufrágio de novembro de 2021, que matou 27 pessoas ao largo de Calais, um caso que ainda aguarda julgamento.
Os réus, em sua maioria afegãos, foram julgados entre 16 e 20 de junho no Tribunal Inter-regional Especializado (JIRS) de Lille, enfrentando acusações de "tráfico de seres humanos", "homicídio involuntário", e outras infrações relacionadas à segurança dos migrantes.
A embarcação sobrecarregada partiu na noite de 13 para 14 de dezembro de 2022, em condições de mar agitado e gelado, um facto que deixou os passageiros apreensivos. Um dos arguidos admitiu ter transportado migrantes à força, originários de um campo em Loon-Plage, onde muitos esperam para atravessar clandestinamente para o Reino Unido.
O Ministério Público pediu penas de oito anos para o afegão em fuga, considerado o cérebro da operação, e para um curdo iraquiano de 40 anos. Outros membros da rede foram condenados a penas variando entre seis e sete anos.
Um piloto senegalês, menor de idade, já havia sido condenado a nove anos na Grã-Bretanha, enquanto um décimo réu, detido na Bélgica, enfrentará julgamento posterior.
A procuradora sublinhou o lucro do tráfico humano, com cada passageiro a pagar em média 3.500 euros. As péssimas condições da embarcação foram destacadas, uma vez que era inadequada para a navegação no mar aberto.
Entre os passageiros, quatro foram dados como desaparecidos, enquanto quatro morreram; apenas um deles, um afegão, foi identificado. Além disso, 39 pessoas foram resgatadas em estado crítico pelas equipas de emergência francesa e britânica.
Em setembro, a França fez um apelo para restabelecer uma relação migratória mais convencional com o Reino Unido, na sequência de outro naufrágio que resultou na morte de pelo menos 12 pessoas.
No total, desde o início de 2025, pelo menos 15 pessoas perderam a vida na tentativa de chegar ao Reino Unido em embarcações precárias. Em 2024, 78 migrantes morreram durante estas travessias perigosas, um recorde desde o início deste fenómeno em 2018, impulsionado pelo fechamento de rotas migratórias tradicionais.
Desde 2018, estima-se que cerca de 136.000 indivíduos tenham atravessado o Canal da Mancha em busca de uma vida melhor, enfrentando riscos extremos.