Mariana Mortágua critica o adiamento das celebrações do 25 de Abril e alerta para um futuro ofuscado pelas desigualdades e a ascensão de novos fascismos.
Mariana Mortágua manifestou, numa sessão solene que comemorou os 51 anos da Revolução dos Cravos e o cinquentenário das primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte, a sua profunda decepção com a decisão governamental de adiar a celebração do 25 de Abril.
Num discurso que recordou a importância de manter viva a memória da data que deu início à democracia, Mortágua afirmou que “até mesmo o dia mais feliz se mostra incapaz de iluminar um futuro onde a desigualdade e o narcisismo político imperam”. Nesta intervenção, referiu o legado do seu pai, o antifascista Camilo Mortágua, que faleceu no final de 2022.
A coordinadora do BE destacou, ainda, a responsabilidade dos capitães de Abril e dos jovens que hoje convivem com os desafios dos discursos de ódio e o avanço do novo fascismo. Segundo ela, “o tempo que nos calhou viver exige lutar contra promessas quebradas, políticas que diluem gerações e uma economia que, renascida da crise, ignora a verdadeira qualidade de vida dos povos”.
No seu discurso, Mortágua também criticou veementemente as atuais divisões sociais e o papel controverso do capitalismo, que, segundo as suas palavras, contribuiu para a emergência de figuras políticas que espalham mensagens de exclusão e violência. Relembrou ainda o conflito na Faixa de Gaza, condenando o que chamou de “genocídio iniciado por Israel na Palestina” e denunciando a passividade europeia diante destas atrocidades.
Refletindo sobre a importância do legado do 25 de Abril, a política deixou uma incógnita: “De que vale adiar uma data tão emblemática se continuamos a ignorar as palavras que clamam por justiça, incluindo as dos que sofrem em Portugal e no mundo?”. Ao dirigir-se especialmente aos jovens, exclamou com convicção que “a liberdade é um fardo e um dom ao mesmo tempo, e cabe a cada um de nós manter viva a chama da democracia”.
O governo adiou a sua “agenda festiva” do 25 de Abril para 1 de maio, justificando a decisão pelo luto nacional causado pelo falecimento do Papa Francisco, uma medida que recebeu críticas intensas por parte da esquerda.