Na última década, mais de 52 mil migrantes perderam a vida a fugir de zonas de conflito e desastres, revelando a dimensão da crise humanitária global.
De acordo com o Projeto Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 52 mil pessoas sucumbiram ao longo dos últimos 11 anos na tentativa de escapar de situações de grave instabilidade. Este número representa cerca de três quartos do total registado desde 2014, apontando para uma realidade alarmante.
O relatório destaca que o Mediterrâneo é considerada a rota mais arriscada, acumulando quase 25 mil mortes, mas sublinha que as áreas mais mortíferas são aquelas dominadas por conflitos e catástrofes. Assim, 54% das fatalidades ocorreram em países ou regiões afetadas por crises, onde a falta de oportunidades e a instabilidade obrigam muitos a abandonar os seus lares.
Exemplos trágicos incluem o Afeganistão, onde cerca de 5 mil pessoas perderam a vida ao tentar escapar da instabilidade após a retomada do poder pelos talibãs, e Myanmar, onde mais de 3 100 indivíduos, sobretudo da minoria rohingya, sucumbiram, muitas vezes em naufrágios enquanto tentavam alcançar a costa de Bangladesh. Outras regiões com números expressivos foram a Etiópia (1 923 mortes), a Síria (1 433), a Guatemala (792), a Venezuela (764) e o Haiti (593), complementadas por fatalidades registradas em Honduras, Sudão e Bangladesh.
A directora-geral da OIM, Amy Pope, afirmou que estes números são um trágico lembrete de que, quando a insegurança e a falta de perspectivas empurram as pessoas para a fuga, arriscam a sua vida. Ela defendeu a necessidade de medidas que tornem a migração uma escolha, apelando ao investimento em oportunidades de desenvolvimento nos países de origem e à criação de rotas seguras, legais e ordenadas para salvar vidas.
A coordenadora do Projeto Migrantes Desaparecidos, Julia Black, alertou que os migrantes muitas vezes ficam de fora das estatísticas oficiais, o que pode significar que o verdadeiro número de vítimas seja ainda superior ao reportado. Este cenário evidencia a urgência de incluir a proteção destes grupos nos planos de assistência humanitária global.