Economista do FMI sublinha a urgência de reduzir vulnerabilidades, promover o desenvolvimento e implementar reformas socialmente aceitáveis, mesmo em meio a desafios globais significativos.
Em entrevista à Lusa, Thibault Lemaire, economista do FMI responsável pelo relatório sobre a África subsaariana, enfatizou três grandes prioridades para os decisores políticos: reduzir as vulnerabilidades macroeconómicas, satisfazer as necessidades de desenvolvimento e assegurar que as reformas sejam aceites tanto política como socialmente.
Durante os Encontros da Primavera do Banco Mundial e do FMI, realizados em Washington, o economista apontou que a recente turbulência económica na região não é consequência direta das tarifas impostas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, mas sim dos efeitos indiretos dessa medida. Segundo Lemaire, o principal canal de transmissão tem sido a redução dos preços das matérias-primas, que impacta especialmente exportadores de petróleo como Angola e Nigéria.
Thibault Lemaire referiu ainda que as pressões secundárias advêm de um abrandamento na procura mundial, condições financeiras mais restritivas, pressões cambiais e uma incerteza económica crescente. Apesar destes desafios, o especialista salientou a existência de fatores de resiliência na região, cuja taxa de crescimento, revista para 3,8% este ano, reflete uma queda de 0,4 pontos percentuais face às previsões anteriores.
No ano passado, a África subsaariana superou as expectativas, registando um crescimento de 4%, comparativamente aos 3,6% de 2023 e às previsões de 4,2% para 2026. Lemaire referiu que sinais positivos emergiram graças a políticas mais eficazes e à redução dos desequilíbrios macroeconómicos, como a desaceleração da inflação para uma média de 4,5% e a estabilização do rácio da dívida pública para abaixo de 60% do PIB.
Em relação à interferência dos choques globais, o economista destacou que, mesmo num cenário adverso, 11 dos 20 países com maior taxa de crescimento encontram-se na África subsaariana, comprovando o potencial e a resiliência da região. Além disso, dos 45 países subsaarianos, 24 contam com programas de financiamento ativos do FMI, que desde 2020 já disponibilizou mais de 65 mil milhões de dólares – a maior parte em condições concessionais.
Ao concluir a entrevista, Lemaire reforçou que a missão do FMI é ajudar os países a enfrentar choques externos e que a instituição permanece pronta para apoiar as economias africanas em tempos de incerteza.