Fim do FRESAN em Angola: Progressos na segurança alimentar, mas desafios persistem
O programa FRESAN, após sete anos de implementação, regista avanços significativos na segurança alimentar em Angola, mas a fome ainda persiste no sul do país.

O programa Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN) está a concluir sete anos de atividades com resultados positivos, apesar da continuidade da insegurança alimentar, particularmente no sul do país. A coordenadora do programa, Patrícia Carvalho, fez esta declaração à Lusa.
Financiado pela União Europeia com um investimento de 65 milhões de euros, o FRESAN foi lançado em 2018 e abrangeu as províncias do Cunene, Huíla e Namibe, tendo como principal objetivo a diminuição da fome, da pobreza e a mitigação da vulnerabilidade ao clima.
Patrícia Carvalho destacou que “o balanço do programa FRESAN é positivamente evidente, resultado da colaboração entre diversas áreas que influenciam a segurança alimentar e nutricional”, nomeadamente agricultura, saúde, nutrição, proteção civil, ambiente e meteorologia.
Um dos grandes focos do programa foi o apoio direto às comunidades, especialmente no que toca ao acesso à água, um componente essencial da iniciativa. O FRESAN envolveu quatro parceiros principais: Camões IP, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o hospital Vall d'Hebron, em colaboração com o Governo de Angola e várias organizações não governamentais.
Durante a implementação do programa, foram construídas mais de 500 infraestruturas de água, beneficiando cerca de 300 mil pessoas. Além disso, 16.175 camponeses e pastores receberam apoio, enquanto 12.186 membros de cooperativas agrícolas foram capacitados. A capacidade de comercialização de produtos agrícolas foi reforçada para 3.955 agricultores, superando as expectativas iniciais.
O programa também introduziu seis estações meteorológicas automáticas, integradas no sistema do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Angola (INAMET), e implementou escolas de campo para agricultores, além de campanhas de educação nutricional dirigidas à infância.
Contudo, apesar dos sucessos alcançados, os indicadores de segurança alimentar continuam a ser alarmantes, visto que, embora tenha sido feita uma intervenção técnica e institucional, as causas estruturais da fome não foram totalmente erradicadas. Para que os avanços durem, será necessário garantir a continuidade das ações, uma coordenação eficaz entre os setores, e a busca por soluções a longo prazo.
Patrícia Carvalho reforçou que “um dos desafios é assegurar a sustentabilidade dos resultados ao longo do tempo, promovendo a estabilidade e a ampliação das intervenções, que devem estar apoiadas em outros programas e projetos do Governo angolano. Acreditamos que o futuro permitirá consolidar estes progressos.”
A cerimónia de encerramento do programa está marcada para esta semana, no Namibe, e será precedida por visitas de campo, debates e uma gala cultural, contando com a presença de representantes do Governo de Angola, da União Europeia e da diversidade de agências e organizações não governamentais envolvidas.