Biden atribui fracasso de Kamala Harris a preconceitos enraizados

Joe Biden, que esteve no comando da Casa Branca até janeiro, concedeu uma entrevista ao programa 'The View', da ABC, onde analisou a difícil eleição dos democratas em 2024 e as suas preocupações com a sua idade e a liderança polarizadora de Donald Trump.

O democrata de 82 anos reconheceu que evitou discussões públicas nos primeiros 100 dias do mandato do presidente republicano, uma prática habitual após uma mudança na administração. Contudo, ao abordar a última corrida eleitoral, Biden expressou a sua surpresa com a forma como questões de género e etnia influenciaram o resultado.

"Seguiram o caminho do sexismo", afirmou Biden, referindo-se às críticas dirigidas a Kamala Harris, que, como mulher e de origem mista, enfrentou desafios acrescidos na sua candidatura. O ex-presidente assumiu a responsabilidade pela sua derrota, afirmando: "Eu estava no comando e ele [Trump] venceu."

Desde a saída da Casa Branca, Biden afastou-se da cena política, não sendo expectável que desempenhe um papel crucial na nova fase dos democratas, que parece estar a passar por uma transição para uma nova geração de líderes. Contudo, ele revelou que mantém contato regular com Harris, oferecendo conselhos sobre o seu futuro político. "Ela tem uma decisão difícil a tomar e espero que continue empenhada", comentou, sem entrar em pormenores sobre os seus conselhos.

Quando questionado sobre as preocupações relacionadas com a sua saúde mental após um fraco desempenho num debate recente, Biden não demonstrou abertura para tais críticas. Ele sublinhou que a razão principal pela qual optou por desistir da corrida foi o desejo de não dividir o Partido Democrata, embora reconheça que havia preocupações sobre a sua idade após o debate desastroso.

As sondagens demonstram que a insatisfação entre os democratas é significativa; em janeiro de 2022 apenas 48% desejavam a sua recandidatura, percentual que caiu para 37% em fevereiro de 2023. Após o debate, quase dois terços dos eleitores afiliados ao partido consideraram que deveria retirar-se da corrida.

A entrevista também foi notável por ser a primeira em conjunto com Jill Biden desde que deixaram Washington. A ex-primeira-dama desmentiu a ideia de que teria criado um ambiente protetor em torno do marido durante o seu tempo na presidência. "Estive com o Joe dia e noite... e não o escondi", enfatizou.

Por fim, Biden não poupou críticas a Trump, aludindo ao seu mau desempenho nos primeiros 100 dias de presidência, dizendo que foram os piores já registados. A resposta do diretor de comunicação da Casa Branca, Steven Cheung, não tardou, descrevendo Biden como uma "vergonha para o país" e questionando a sua capacidade mental.