Alerta para a elevada mortalidade civil em Gaza: 83% das vítimas são não-combatentes
Uma análise revela que mais de 83% das perdas humanas em Gaza até maio são civis, destacando uma grave crise humanitária e as consequências devastadoras do conflito.

Um recente estudo conjunto do The Guardian e da revista israelita +972 indicou que, até maio, cerca de 83% dos mortos na Faixa de Gaza eram civis. Este dado alarmante foi obtido através do acesso a uma base de dados confidencial dos serviços secretos do Exército israelita.
Após 19 meses de conflito, os serviços de inteligência de Israel identificaram aproximadamente 8.900 combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica como mortos ou "provavelmente mortos". Contudo, o total de vítimas na região ascende a 53.000, conforme as autoridades de saúde de Gaza, cujos números são considerados fidedignos pela ONU.
A discrepância entre o número de civis e combatentes mortos é particularmente elevada para os padrões de conflitos modernos. Apenas em casos históricos de genocídio, como em Srebrenica, Ruanda e Mariupol, foi observada uma porcentagem maior de civis entre as vítimas, segundo dados do Programa de Dados sobre Conflitos de Uppsala (UCDP).
Especialistas em genocídio e organizações de direitos humanos afirmam que Israel está a engendrar um genocídio em Gaza, devido ao número elevado de civis mortos e ao uso da fome como arma de guerra, tornando a região inabitável.
Na quarta-feira, o Exército israelita anunciou que eliminou cerca de 2.000 militantes desde que, a 18 de março, rompeu unilateralmente um cessar-fogo que estava em vigor desde janeiro de 2025. No mesmo período, 10.576 palestinianos perderam a vida, com 81% das vítimas potenciais a serem civis.
Após a divulgação dos dados, um porta-voz do Exército de Israel garantiu que as informações apresentadas eram "incorretas", mas não forneceu justificações ou números alternativos.
O conflito eclodiu após um ataque do Hamas em território israelita em 7 de outubro de 2023, que resultou em 1.200 mortes e 251 sequestros. Desde então, o total de mortos em Gaza aumentou para 62.192, na maioria civis, e 157.114 feridos, com muitos outros desaparecidos sob os escombros e vítimas de doenças e fome.
As mortes por fome continuam a aumentar, resultado do bloqueio à ajuda humanitária que já dura mais de dois meses, agravado pela exclusão de agências da ONU e ONGs do território. A ONU já declarou uma crise humanitária grave na região, com mais de 2,1 milhões de pessoas a enfrentar "fome catastrófica". Além disso, uma comissão da ONU, já no final de 2024, acusou Israel de genocídio e de utilizar a fome como uma arma de guerra, situação que também foi denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça.