Urgente: 4,3 milhões de moçambicanos em necessidade crítica de ajuda este ano
Este ano, cerca de 4,3 milhões de moçambicanos necessitam de assistência humanitária urgente, conforme alerta um relatório da ONU, que destaca a grave insuficiência de financiamento.

Um relatório recente do Grupo de Segurança Alimentar das Nações Unidas revela que aproximadamente 4,3 milhões de pessoas em Moçambique necessitarão urgentemente de ajuda humanitária durante este ano. O documento, elaborado em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), salienta que a situação é agravada por um défice significativo de financiamento.
A crise humanitária associada aos ataques terroristas no norte do país já afetou cerca de 763.324 pessoas, enquanto eventos climáticos extremos, como secas e ciclones, impactaram mais de 3,5 milhões de cidadãos.
Em abril, foi estimado que mais de 461.745 pessoas foram deslocadas internamente devido ao conflito nas províncias do norte, e aproximadamente 701.462 já teriam retornado às suas áreas de origem.
O relatório também adverte que a insegurança alimentar em Moçambique poderá agravar-se, resultado da combinação entre choques climáticos, conflitos armados e o esgotamento das reservas alimentares. Segundo a última análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), quase cinco milhões de pessoas poderão enfrentar insegurança alimentar aguda grave entre outubro de 2024 e março de 2025, sendo que 911.828 podem entrar na fase de Emergência.
Apesar da gravidade da situação, até ao momento, apenas 11% dos 392 milhões de dólares (aproximadamente 337,9 milhões de euros) necessários para apoiar 2,16 milhões de moçambicanos foi disponibilizado.
O Grupo de Segurança Alimentar tem a responsabilidade de coordenar as respostas às crises humanitárias, trabalhando com uma rede de mais de mil instituições em 29 países para garantir a disponibilidade e acesso aos alimentos essenciais.
A situação climática em Moçambique também preocupa, com um aumento no número e intensidade dos ciclones na última década, conforme observado no relatório do Estado do Clima 2024 do Instituto de Meteorologia (Inam). Na última época ciclónica, de dezembro a março, três ciclones graves atingiram o país, resultando em cerca de 175 mortos e a destruição de milhares de infraestruturas, especialmente no norte e centro.
A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma grave oposição armada, que gerou uma crise humanitária e uma enorme perda de vidas, com mais de um milhão de deslocados. Recentemente, extremistas também têm expandido a sua atividade em Niassa, província vizinha, onde foram registadas mortes violentas.