Políticos portugueses adotam o estilo influencer nas redes sociais

Num ambiente inesperado, a deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, apresenta-se a cozinhar granola de tapioca numa gravação para o TikTok, ao mesmo tempo que expõe críticas ao governo sobre a crise habitacional. "Espero que esta granola não fique contaminada pelo tema", comenta com ironia enquanto coloca o tabuleiro no forno.

Com 44 mil visualizações, Mortágua é uma das figuras políticas mais ativas nas redes sociais, onde usa cenários do dia a dia para discutir tópicos políticos. Nos tempos atuais, é comum ver deputados e eurodeputados a utilizarem estas plataformas, uns mais tradicionais e outros a adoptarem um estilo mais próximo do influencer digital, que promove uma interação mais dinâmica e direta com o público.

Em contraste, a deputada do Chega, Rita Matias, partilhou recentemente um vídeo a dançar, que acumula mais de 240 mil visualizações. Ela acredita que a autenticidade nas mensagens é crucial. "Quanto mais personalizadas forem, mais as pessoas se conectam", afirma, citando líderes políticos de outros países como inspirações.

Bruno Gonçalves, o mais novo eurodeputado do PS, opinou sobre a importância de simplificar a comunicação política, salientando que os políticos muitas vezes se perdem em mensagens complexas. “Falar numa linguagem simples e ter uma boa iluminação faz toda a diferença”, disse, destacando a sua própria presença nas redes, com 83 mil seguidores no TikTok.

A social-democrata Ana Gabriela Cabilhas, que está entre os candidatos nas próximas eleições, expressou que transformar assuntos complexos em conteúdos simples é um desafio constante. Ela mencionou que a sua prioridade é aproximar os jovens da política, mostrando o quotidiano parlamentar nas suas redes sociais.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o seu oponente socialista, Pedro Nuno Santos, também se juntam a esta tendência usando vídeos curtos para se conectarem com os eleitores, evidenciando a crescente importância da comunicação digital na política.

Investigadores como José Moreno, do ISCTE, confirmam que publicações de caráter pessoal tendem a ter mais impacto e notoriedade, sublinhando a relevância do lado humano na comunicação política. Isto é reforçado por diversos políticos que relataram que os conteúdos mais populares nos seus perfis pessoais não são necessariamente os mais formais, mas sim aqueles que revelam um lado mais pessoal e autêntico.

A IL e o Livre também se destacam nesta nova abordagem, usando humor e criatividade para comunicar as suas mensagens, desde críticas aos transportes públicos até abordagens lúdicas. O PAN, por sua vez, combina intervenções políticas com conteúdo que provoca debate e reflexão.