Nicarágua abandona UNESCO em protesto contra prémio a La Prensa

O governo da Nicarágua comunicou hoje a sua saída formal da UNESCO, uma decisão que surge em resposta ao prémio global de liberdade de imprensa concedido ao jornal local La Prensa. A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, revelou que recebeu uma carta do governo nicaraguense informando da decisão, que considera "inaceitável" a atribuição do prémio UNESCO/Guillermo Cano ao jornal.

Azoulay expressou a sua desapontamento, afirmando que esta escolha priva o povo nicaraguense dos benefícios da colaboração internacional nas áreas da educação e cultura. "A UNESCO cumpre com o seu mandato ao lutar pela liberdade de expressão e de imprensa em todo o mundo," declarou.

Com a sua saída, a Nicarágua, que pertencia ao grupo de 194 estados-membros da UNESCO, se retira da organização que criou o prémio Guillermo Cano em 1997. A atribuição do prémio de 2025 ao La Prensa, fundamentada por um júri internacional, gerou uma reação forte do governo de Daniel Ortega e Rosario Murillo, que retratou o prémio como um ataque aos valores da identidade nacional nicaraguense.

Na missiva enviada à UNESCO, o governo nicaraguense afirmou que a organização está a promover um "sentimento antipatriótico" atribuído ao La Prensa, que, de acordo com o regime, apoia "intervenções militares e políticas" estadounidenses na Nicarágua. Apesar das dificuldades enfrentadas desde 2021, incluindo perseguições judiciais e a expulsão de jornalistas, a UNESCO reconheceu que o La Prensa continua a informar a população através da internet.

A organização destacou que o periódico, fundado em 1926, simboliza os crescentes ataques à liberdade de expressão no país. A cerimónia de entrega do prémio será realizada na próxima quarta-feira em Bruxelas, em homenagem ao jornalista colombiano Guillermo Cano, assassinado em 1986.