Médicos Sem Fronteiras denuncia barbaridades e limpeza étnica em curso no Darfur
A organização Médicos Sem Fronteiras alerta para "atrocidades massivas" e "limpezas étnicas" no Darfur, com a situação a agravar-se devido aos confrontos entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) emitiu um alerta urgente sobre as “atrocidades em massa” e os atos de “limpeza étnica” que estão a ocorrer no norte do Darfur, onde os combates entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) continuam a intensificar-se.
Michel Olivier Lacharité, responsável pelas emergências da MSF, destaca que a população não só enfrenta combates violentos como também é alvo deliberado das RSF e dos seus aliados, com a etnia a ser um fator determinante para a perseguição. Desde abril de 2023, o Sudão encontra-se mergulhado numa batalha pelo poder entre o exército e as RSF, resultando em dezenas de milhares de mortos e 13 milhões de deslocados, segundo os dados mais recentes.
A situação agravou-se após as RSF mudarem a sua ofensiva para o oeste do país, especialmente após a perda de Cartum em março. A cidade de El-Facher, capital do Darfur, permanece sob controle do exército, mas é alvo de ataques constantes dos paramilitares, que desde maio de 2024 mantêm cerca de 800.000 pessoas em cerco.
António Guterres, secretário-geral da ONU, declarou na última sexta-feira que está a trabalhar para estabelecer um cessar-fogo de modo a facilitar a entrega de ajuda humanitária em El-Facher. A cidade enfrenta uma grave escassez de alimentos, água e assistência médica, enquanto a fome se alastra entre os campos de deslocados circundantes.
Um relatório da MSF, fundamentado em 80 testemunhos recolhidos entre maio de 2024 e maio de 2025, evidencia padrões sistemáticos de violência que incluem pilhagens, massacres, violência sexual e ataques a infraestruturas civis.
Testemunhas relatam que as tropas das RSF estão a planear “limpar El-Facher” de comunidades não árabes, especialmente os Zaghawa, que são aliados do exército. Essa situação suscita preocupações sobre a repetição de massacres semelhantes, como os que ocorreram em 2023 contra os Masalit no oeste do Darfur.
A consultora de assuntos humanitários da MSF, Mathilde Simon, expressou a sua apreensão sobre a possibilidade de um massacre iminente em El-Facher.
As forças do general Abdel Fattah al-Burhane, que lidera o Sudão desde o golpe de Estado em 2021, e as RSF, lideradas pelo general Mohamed Daglo, são frequentemente acusadas de perpetrar atrocidades. O conflito, agora no seu terceiro ano, levou a ONU a caracterizá-lo como “a maior crise humanitária atual”, com mais de um milhão de pessoas no norte do Darfur à beira da fome.
O conflito fragmentou ainda mais o país, com o exército a dominar as regiões leste, centro e norte, enquanto as RSF controlam praticamente todo o Darfur e partes do sul.