Mário Martins: O Legado do Produtor que Transformou a Música Portuguesa

Nascido em Lisboa em 1934, Mário Martins, produtor discográfico de renome, faleceu hoje aos 90 anos, deixando um legado impressionante na cena musical portuguesa. Entre os artistas que ajudou a destacar, encontram-se grandes nomes como Carlos Paião, José Cid, Marco Paulo e Rui Veloso.

Martins não se limitou a fazer descobertas; também criou fortes laços de amizade com muitos dos seus artistas, como referiu numa entrevista à agência Lusa, destacando a relação que desenvolveu com Maria Germana Tânger e outros nomes do panorama musical.

Uma das suas contribuições mais marcantes foi a colaboração com Maria Germana Tânger, a qual resultou numa série de gravações de poesia portuguesa, incluindo obras de poetas como David Mourão-Ferreira e Mário Cesariny, apresentados nas suas próprias vozes.

Relatou também com carinho a defesa do talento de Rui Veloso, cuja mãe o procurou para mostrar uma gravação do filho. Martins, impressionado, previu o sucesso de Rui, um verdadeiro testemunho da sua visão apurada para a música.

No seu percurso, Mário Martins deixou a sua marca em canções que se tornaram clássicos, como 'Somos Livres' e 'Vinte Anos', além de ter produzido 'O Nazareno' de Frei Hermano da Câmara, um trabalho que descreveu como a sua "mais complexa produção".

Durante cerca de três décadas, foi o responsável pelo departamento de Artistas e Reportório da editora Valentim de Carvalho, posição que ocupou desde 1966, após ser recrutado por João Belchior Viegas, antigo agente de Amália Rodrigues. A própria fadista referia Mário como "o verdadeiro milagre português", especialmente quando, em 1982, gravou 'O Senhor Extraterrestre', uma das obras de Carlos Paião.

Além de produtor, Mário Martins revelou-se também um talento por detrás das palavras, tendo escrito poesias para Amália Rodrigues, embora a sua timidez o tivesse impedido de as apresentar à artista. O seu reconhecimento da grandeza poética de nomes consagrados a levou a hesitar na divulgação das suas obras.

Trabalhou com vários artistas emblemáticos, destacando o profissionalismo e a entrega de Maria Clara, que, após o incêndio de 1988, regravou alguns dos seus sucessos, demonstrando uma qualidade que o produtor sempre admirou.

O encontro com António Variações, através do jornalista Luís Vitta, também deixou a sua marca, onde Mário percebeu que o cantor tinha um enorme potencial, embora o tivesse orientado para um repertório folclórico, já que era uma área que dominava.

Marco Paulo, por sua vez, deve grande parte do seu sucesso à visão e trabalho de Mário Martins, que se tornou responsável pelas suas versões em português após a morte de António José Lampreia.

Além do seu trabalho na Valentim de Carvalho, Mário Martins estabeleceu parcerias com projectos televisivos, incluindo um programa de grande sucesso na RTP e a criação do 'Fado Fadinho' na TVI, que lhe valeu um Prémio Bordalo.

Depois de 1993, Martins mudou-se para a Movieplay Portuguesa, onde coordenou a série 'O Melhor dos Melhores', que celebrou os sucessos de mais de 100 artistas nacionais, além de ter produzido álbuns aclamados como 'O Outro Lado do Fado', de Lenita Gentil.

O seu legado perdurará na memória dos amantes da música e da cultura portuguesa, assegurando que a sua influência continuará a ecoar através das gerações.