Atraídos pelo potencial de crescimento do continente, portugueses com ascendência africana regressam às suas raízes para contribuir para o progresso das suas nações ancestrais.
O continente africano, em plena afirmação, tem-se tornado um destino para imigrantes qualificados, especialmente originários de Portugal, que desejam contribuir para o seu desenvolvimento. Cláudia Reis e Aissatu Turé são exemplos de jovens que decidiram voltar às suas terras ancestrais em busca de um propósito e novas oportunidades.
Cláudia Reis, uma jornalista formada em Portugal, escolheu a ilha de São Vicente, em Cabo Verde, como o seu novo lar. Desde Julho de 2024, reside em Mindelo, a terra dos seus avós. "Muitos estão a regressar a África, trazendo formação superior e o desejo de ajudar no progresso do local", diz ela.
De ascendência cabo-verdiana, Cláudia sente-se sempre dividida entre duas culturas. "Em Portugal perguntavam-me constantemente 'és de onde?' e, quando visitava Cabo Verde, diziam-me que 'não sou de cá'", recorda. Esta dualidade levou-a a solicitar a dupla nacionalidade, um passo que considera essencial para a sua identidade.
Para Cláudia, viver em Cabo Verde oferece uma qualidade de vida superior. "Em Portugal, não vivia, apenas sobrevivia. Aqui sinto que tenho liberdade e um ritmo de vida mais descontraído", afirma, revelando que a ligação à terra prometida desde a sua primeira visita foi um fator decisivo para a sua escolha.
Por outro lado, Aissatu Turé, advogada de formação e actual secretária-geral da câmara municipal de Bissau, na Guiné-Bissau, partilha uma história semelhante. Descendente de empresários guineenses que perderam tudo durante a guerra civil, Aissatu sentiu inicialmente que a sua missão era apenas um regresso ao lar. "Em Portugal, sentia-me invisível, mas na Guiné-Bissau percebi que tinha o poder de fazer a diferença", confessa.
Apesar dos desafios que enfrenta, como a falta de serviços básicos, Aissatu considera a sua experiência em Bissau enriquecedora e transformadora. "É muito mais feliz aqui do que em Lisboa, onde também guardo memórias queridas", afirma. Para ela, a Guiné-Bissau representa não apenas oportunidades, mas uma nova vida cheia de significado.
Ambas as jovens revelam que a ida para África não é apenas uma questão de retorno à terra natal, mas uma aspiração de contribuir activamente para o desenvolvimento das suas comunidades, transformando a percepção que muitos têm do continente.