Impacto do corte de financiamento dos EUA na documentação de crimes na Ucrânia

A advogada Kateryna Busol, especialista em direito humanitário, alertou para o impacto negativo que o corte do financiamento da ajuda externa pelos Estados Unidos teve na documentação de crimes de guerra na Ucrânia. Durante um evento realizado em Londres pelo Chatham House, Busol mencionou que a suspensão das atividades da USAID afetou seriamente o setor dos direitos humanos na Ucrânia, uma vez que muitos projetos de documentação e análise de atrocidades eram suportados por essa agência.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, tinha anunciado o congelamento de quase toda a ajuda externa, juntamente com a desmantelação da USAID, que dispunha de um orçamento considerável. Além disso, o afastamento dos EUA de instituições multilaterais, como a saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU e as sanções contra o Tribunal Penal Internacional, agravarão a situação, conforme acrescentou Busol.

Outro aspecto relevante do corte financeiro inclui a suspensão de financiamento para a universidade de Yale, que realizava um projeto de monitorização de cerca de 20 mil crianças ucranianas levadas para a Rússia, afetando diretamente o registo digital destas atividades. "O impacto é enorme, e certos tipos de trabalho exigem financiamento. Embora algumas análises possam ser feitas voluntariamente, custos como transporte e logística para entrevistar sobreviventes nos territórios recentemente libertados requerem recursos financeiros", explicou a advogada.

Busol expressou esperança de que países europeus e outros aliados possam preencher o vácuo deixado pelos EUA, apoiando as organizações não-governamentais que trabalham na documentação de crimes de guerra.

No evento "A luta pela justiça na Ucrânia – Uma avaliação dos crimes da Rússia e das opções de responsabilização", também foi discutida a questão da violência sexual associada ao conflito. Um relatório da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Ucrânia salientou que a violência sexual tem sido usada sistematicamente por autoridades russas como forma de tortura em locais de detenção de prisioneiros, afetando inclusive homens.

De acordo com Busol, mais de 600 indivíduos apresentaram pedidos urgentes de reparação, a maioria dos quais homens. Charu Lata-Hogg, fundadora do Projeto Todos os Sobreviventes, indicou que a violência sexual contra homens tem várias formas, desde mutilação genital a ameaças de violação, enfatizando que o impacto se estende não apenas à vítima, mas a suas famílias e comunidades, perpetuando um ciclo de dor e trauma.