Um relatório da OMS revela que 78% dos enfermeiros estão concentrados em países com apenas 49% da população global, chamando a atenção para as crescentes desigualdades nos cuidados de saúde.
De acordo com o relatório intitulado "Situação Mundial da Enfermagem 2025", que foi apresentado no Dia Internacional dos Enfermeiros, a desproporção na distribuição de enfermeiros a nível mundial continua a agravar-se. O documento revela que cerca de 78% dos enfermeiros estão situados em países que apenas representam 49% da população global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que estas desigualdades não devem ser ignoradas, pois constituem um obstáculo significativo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
A OMS destaca a existência de "um padrão de desigualdade evidente" em várias dimensões, incluindo a distribuição de enfermeiros, formação académica, salários e condições de trabalho. O relatório apela a que decisores políticos, reguladores e gestores de serviços de saúde utilizem os dados disponíveis para implementar medidas que possam mitigar estas lacunas, baseando-se numa atualização da edição de 2020, que abrange informações de 194 países.
Os dados de 2023 indicam que existem aproximadamente 29,8 milhões de enfermeiros em todo o mundo, mas existe uma carência estimada de 5,8 milhões. Em contrapartida, os países de rendimento elevado, que representam apenas 17% da população global, concentram 46% desses profissionais. A densidade média de enfermeiros é de 37,1 por 10 000 pessoas, uma cifra que se torna alarmante quando comparada com a Região Europeia da OMS, onde esta média é cinco vezes superior à das regiões da África e do Mediterrâneo Oriental. Nos países mais ricos, a presença de enfermeiros é dez vezes superior à dos países com menores rendimentos.
O relatório ainda sublinha que "as estatísticas indicam que uma parte significativa da população global enfrenta um acesso restrito a serviços essenciais, como cuidados maternos e infantis, gestão de doenças crónicas e resposta a emergências de saúde pública". Além disso, a força de trabalho de enfermagem está a tornar-se cada vez mais qualificada, com 80% dos profissionais a atuarem no setor público e 85% a serem mulheres.
Entre as recomendações do relatório estão prioridades políticas que visam fortalecer a enfermagem e alcançar uma cobertura universal de saúde, enfatizando que os próximos cinco anos são críticos para alcançar estes objetivos. É sugerido que os países de rendimento médio e baixo concentrem esforços na formação de mais enfermeiros graduados e na melhoria das suas condições de trabalho, a fim de conter a emigração excessiva e ter em conta o crescimento populacional e do mercado de trabalho.
Por sua vez, os países europeus e de maior rendimento devem focar-se na formação e retenção de profissionais de saúde para compensar a perda devido à aposentação e reduzir a dependência do recrutamento internacional. A OMS sublinha também a importância de considerar as necessidades locais ao recrutar enfermeiros, assim como promover o seu Código Global de Práticas sobre Recrutamento Internacional e garantir que a formação esteja alinhada com as necessidades de saúde da população.
"Investir na educação, no emprego, na prestação de serviços e na liderança dos enfermeiros irá estimular o crescimento económico", conclui a OMS, que na sua próxima Assembleia Geral pode estabelecer diretrizes estratégicas para a enfermagem no período de 2026 a 2030.