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Desafios de Saúde nas Bijagós: Um Hospital para 23 Ilhas

O arquipélago das Bijagós, com 33 mil habitantes em 23 ilhas, enfrenta dificuldades no acesso à saúde, dependente de um único hospital em Bubaque, segundo enfermeiros locais.

07/07/2025 09:45
Desafios de Saúde nas Bijagós: Um Hospital para 23 Ilhas

O arquipélago das Bijagós, situado na Guiné-Bissau e habitado por cerca de 33 mil pessoas distribuídas por 23 ilhas, está servido apenas por um único hospital, localizado em Bubaque. Esta realidade foi destacada por Élcio Marques Vieira, enfermeiro na ilha de Formosa.

Élcio e outros dois enfermeiros operam num centro de saúde em Formosa, mas são frequentemente forçados a atender comunidades das ilhas vizinhas de Tchedignha, Nghago e Maio, uma tarefa dificultada pela escassez de transporte. "Para casos graves, como crianças ou grávidas, enfrentamos muitas dificuldades para os deslocar para o hospital de Bubaque", comentou Élcio.

O enfermeiro explicou que atuam como um centro de saúde tipo C, prestando cuidados primários durante três dias, e que, caso um doente não recupere, a equipe precisa recorrer a canoas de pescadores para transferir pacientes, apesar das condições inseguras. "Neste momento, estamos sem paracetamol em xarope, que só teremos na próxima semana", lamentou.

Élcio espera que o Governo considere a ampliação do centro de saúde de Formosa, de modo a possibilitar a inclusão de mais profissionais e a construção de áreas dedicadas a pediatria, bem como consultas separadas para adultos e crianças. Ele tem dedicado a sua carreira às ilhas Bijagós há cerca de dez anos, tendo anteriormente trabalhado em Unhocume e Sogá.

Outra profissional, Tamara Fernandes Monteiro Sá, que trabalhou em Caravela, Bubaque e Uno entre 2014 e 2020, recorda as dificuldades enfrentadas especialmente em atender grávidas. Com as ilhas próximas a Bubaque de difícil acesso, muitos dependem de viagens a Bissau para obter atendimento adequado. "Recebia apoio de uma ONG, essencial para resolver problemas de saúde", realçou.

A enfermeira considera o arquipélago rico em biodiversidade, mas com baixa produtividade e carência de serviços, incluindo transporte e agências bancárias, o que eleva os preços dos produtos essenciais. O arroz, elemento fundamental da dieta local, chega a ser vendido quase ao dobro do preço da região continental, devido à sua proveniência de Bissau.

O pescador Ibraima Barros, da ilha de João Vieira Poilão, expressou satisfação pelo reconhecimento das Bijagós como Património Mundial Natural pela UNESCO, mas preocupa-se com possíveis restrições na pesca que possam afetar suas atividades.

Domingos Alves, jornalista da rádio comunitária Okimka Pampa na ilha de Orango Grande, acredita na importância deste reconhecimento, mas questiona a capacidade do Governo guineense em regular as atividades pesqueiras na região. "A sensibilização contínua da população é essencial", defendeu.

As Bijagós são consideradas não apenas um tesouro natural, mas também cultural, integrando a lista de 32 locais que competem para o título de Património Mundial, com a decisão da UNESCO agendada para 11 de julho, em França. A reunião do Comité do Património Mundial decorre até 16 de julho, na sede da UNESCO em Paris.

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