Desafios de Igualdade: O Setor da Eletricidade e Construção Continua a Ser Dominado por Homens
Em Portugal, o sub-representação de mulheres nas áreas de eletricidade e construção reflete estereótipos de género que moldam as escolhas escolares desde cedo, segundo dados recentes.

No contexto português, a presença de mulheres nas profissões qualificadas de eletricidade e construção permanece extremamente baixa. Dados analisados por alunos do seminário da licenciatura em economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), sob a orientação da socióloga Sara Falcão Casaca, revelam que a proporção de mulheres na construção, excluindo eletricistas, caiu de 1,29% em 2010 para 1,26% em 2023.
Relativamente às áreas de eletricidade e eletrónica, a situação é igualmente preocupante. Em 2010, as mulheres representavam 2,98% destes trabalhadores, número que diminuiu para 2,58% em 2023, conforme os dados do 'Quadros de Pessoal' do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho.
A socióloga Sara Falcão Casaca afirma que, apesar de algumas mudanças na distribuição de género em certas áreas, a segregação continua elevada, especialmente em profissões tradicionalmente masculinas. Os dados indicam que em 2023 as profissões dominadas por homens ainda são a norma, um reflexo de estereótipos de género que se perpetuam desde a infância e que moldam as opções educativas de crianças de ambos os sexos.
A especialista sublinha a importância de uma intervenção abrangente que envolva todos os agentes de socialização, incluindo as famílias. A escolha de brinquedos, frequentemente sexualizada, desempenha um papel crucial na formação das aspirações profissionais. A socióloga critica a forma como os brinquedos são direcionados para rapazes ou raparigas, perpetuando desigualdades desde a tenra idade.
Falcão Casaca alerta que a pressão social condiciona as aspirações de jovens, limitando oportunidades e ofuscando talentos. "É comum que os sonhos de uma mulher que poderia ser uma excelente eletricista ou de um rapaz que ambiciona ser educador de infância sejam ignorados devido a estes estereótipos", comenta.
A investigação aponta que ambientes de trabalho mistos, com a presença equilibrada de géneros, promovem melhores resultados em termos de colaboração, criatividade e inovação. Por isso, é essencial trabalhar para que as aspirações profissionais de homens e mulheres não sejam restringidas.
A diretora do observatório em questão enfatiza que as vocações devem ser entendidas como um reflexo das verdadeiras inclinações de cada indivíduo, e não como definições rígidas impostas pelo género. A mudança deve começar pela educação, libertando as crianças das imposições dos estereótipos de género, que afetam também as decisões de recrutamento e oferta de emprego.
No momento em que uma empresa faz uma contratação para uma função como eletricista, a expectativa é frequentemente a de que essa vaga será ocupada por um homem, reforçando assim um ciclo de desigualdade que precisa ser quebrado.