A ONG Médicos do Mundo critica Israel pelo bloqueio a Gaza, revelando que a desnutrição severa está a ser utilizada como "arma de guerra" no contexto do conflito.
A organização não-governamental Médicos do Mundo (MDM) emitiu hoje uma severa crítica a Israel, acusando o país de utilizar a desnutrição aguda como uma arma de guerra através do bloqueio imposto à Faixa de Gaza. Segundo a MDM, as condições de desnutrição na região são agora comparáveis às que se observam em países com crises humanitárias prolongadas, como o Iémen ou a Nigéria.
Baseando-se em dados recolhidos de seis centros de saúde em Gaza, a ONG revela uma correlação entre o aumento das taxas de desnutrição e a redução progressiva da ajuda humanitária que chega ao território palestiniano. Em novembro, foi registado um alarmante pico de desnutrição infantil de 17%, o qual coincide com uma considerável diminuição na ajuda humanitária disponível.
A ajuda humanitária entra predominantemente por corredores entre a Faixa de Gaza e Israel. No entanto, o ponto de Rafah, que se situa na fronteira com o Egito, está fora de operação desde a captura da cidade pelo exército israelita na primavera de 2024. Desde o início do conflito, que se agravou após o ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, os volumes de ajuda têm variado significativamente, mas as autoridades israelitas fecharam as travessias desde 2 de março, na tentativa de pressionar o Hamas a libertar reféns.
Embora o gabinete de segurança israelita tenha afirmado que existe atualmente "comida suficiente" em Gaza, as organizações de ajuda descrevem uma realidade muito diferente, caracterizada por uma situação alarmante. O Programa Alimentar Mundial (PAM) reportou a 25 de abril que havia "esgotado o stock" de alimentos disponíveis.
"Não estamos a testemunhar apenas uma crise humanitária, mas uma crise de humanidade e uma falência moral, onde a fome é utilizada como uma arma de guerra", declarou Jean-François Corty, presidente da MDM.
De acordo com os dados da MDM, em abril de 2025, quase uma em cada quatro crianças e uma em cada cinco mulheres grávidas ou em período de amamentação estavam já a sofrer de desnutrição aguda ou se encontravam à beira desse estado crítico.
Mais recentemente, um relatório do IPC (Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar) revelou que a Faixa de Gaza enfrenta um "risco crítico de fome", com 22% da população a beirar uma situação "catastrófica". O estudo, elaborado por um consórcio que inclui ONG, instituições e agências da ONU, classificou 1,95 milhões de pessoas (cerca de 93% da população total) em situação de "crise" (nível 3) ou pior, sendo 925 mil categorizados no nível 4 (emergência) e 244 mil no nível 5 (desastre).