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China derruba 300 barragens para revitalizar o ecossistema do Yangtsé

O país eliminou 300 barragens no afluente Chishui para proteger espécies ameaçadas e restaurar habitats naturais, segundo a agência Xinhua.

há 5 horas
China derruba 300 barragens para revitalizar o ecossistema do Yangtsé

A China tomou a iniciativa de desmantelar 300 barragens e interromper a operação da maioria das centrais hidroelétricas no rio Chishui, um dos principais afluentes do Yangtsé, com o objetivo de preservar espécies de peixes em risco de extinção e restaurar o ecossistema local, conforme noticiado pela agência oficial Xinhua.

Até ao final de dezembro, foram removidas 300 das 357 barragens existentes no rio, que também é conhecido como o rio Vermelho. Além disso, 342 das 373 pequenas centrais hidroelétricas foram desativadas, permitindo assim que distintas espécies de peixes raros recuperem os seus ciclos naturais de reprodução.

O Chishui, com cerca de 400 quilómetros de comprimento, atravessa as províncias de Yunnan, Guizhou e Sichuan, sendo considerado por ecologistas como um dos últimos bastiões para diversas espécies raras e endémicas da bacia superior do Yangtsé.

Nas últimas décadas, a construção massiva de barragens tinha restringido o fluxo da água, levando ao esgotamento completo do caudal em algumas áreas, conforme relatado pela Xinhua. Esta situação teve um impacto devastador sobre os habitats naturais e zonas de desova, bloqueando também as rotas migratórias de várias espécies de peixes.

De acordo com Zhou Jianjun, professor de engenharia hidráulica na Universidade Tsinghua, o encerramento das centrais hidroelétricas não necessariamente requer a destruição das infraestruturas. “O essencial é que, após a suspensão da produção elétrica, a gestão da água possa ser alterada para atender necessidades ecológicas”, explicou Zhou, citado pela Xinhua.

A agência noticiosa ainda informou que, desde o início do programa de reabilitação ecológica em 2020, algumas espécies, como o esturjão do Yangtsé, mostraram sinais de recuperação do seu habitat e vitalidade. Este peixe, que foi considerado extinto na natureza pela União Internacional para a Conservação da Natureza em 2022, sofreu gravemente devido à construção de barragens e ao incremento da navegação fluvial desde os anos 70.

Ainda assim, estudos realizados pelo Instituto de Hidrobiologia da Academia Chinesa de Ciências, sob a liderança de Liu Fei, revelaram resultados otimistas. Duas levas de esturjões foram libertados no Chishui em 2023 e 2024 e conseguiram adaptar-se ao seu ambiente natural. Em abril último, 20 esturjões adultos foram libertados numa secção do rio em Guizhou, onde foram observados comportamentos reprodutivos naturais e a eclosão de ovos.

"Este resultado demonstra que o ambiente ecológico do rio Vermelho é agora propício para a habitat e reprodução do esturjão do Yangtsé", comentou Liu Fei.

Os últimos dados do instituto indicam um aumento notável da biodiversidade aquática no Chishui, com uma maior diversidade de espécies de peixes observada em diferentes secções do rio. Desde 2020, a China implementou uma série de práticas para proteger o Yangtsé, incluindo uma moratória de dez anos à pesca e a regulamentação de centrais hidroelétricas.

No final de 2021, a província de Sichuan completou a reestruturação de 5.131 pequenas centrais hidroelétricas, encerrando 1.223 delas, segundo um relatório oficial citado pela Xinhua. Além disso, as autoridades locais proibiram a extração de areia nos cursos de água, com o intuito de preservar os habitats aquáticos.

Num comunicado emitido em agosto, o Governo chinês anunciou que a biodiversidade aquática tem melhorado continuamente desde a implementação destas medidas, com um destaque especial para a recuperação de peixes, invertebrados e anfíbios.

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