A Comunidade de Sant'Egídio reconhece o papel essencial de Matteo Zuppi na paz em Moçambique, afirmando que salvou "milhões de moçambicanos" após o conflito com a Renamo.
A Comunidade de Sant'Egídio em Moçambique fez hoje uma declaração emblemática, elogiando o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e candidato a suceder ao Papa Francisco, por ter salvado "milhões de moçambicanos" através da sua mediação no fim do conflito entre o governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
"O seu empenho foi fundamental para libertar Moçambique da guerra civil, mostrando a relevância da sua vida dedicada ao serviço dos outros. Hoje, embora o país enfrente ainda muitos desafios, já não podemos falar de mortes resultantes desse conflito", afirmou o vice-presidente da Comunidade de Sant'Egídio, Nelson Moda, em conversa com a Lusa.
Matteo Zuppi, que se tem destacado pela sua diplomacia ao longo de mais de três décadas, foi um dos líderes religiosos que se envolveu activamente na negociação que culminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, em 1992, entre o Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder da Renamo, que faleceu em 2018.
Durante a entrevista, Moda reforçou a importância do compromisso de Zuppi na luta pela paz em Moçambique, encorajando o povo moçambicano a manter a unidade e a reconciliação. "Ele esteve na linha da frente em momentos críticos, quando o diálogo parecia distante, e o seu papel valeu-lhe até a cidadania honorária atribuída pelo Estado moçambicano", acrescentou.
Segundo Moda, Zuppi não hesitou em arriscar a sua vida, infiltrando-se nas matas de Gorongosa quando a guerra civil estava no seu auge, destacando-o também como um bispo carinhosamente chamado de "padre de rua", sempre próximo dos marginalizados.
A importância de Zuppi é ainda evidenciada pela sua ligação à Comunidade de Sant'Egidio, um canal não oficial de diplomacia da Santa Sé, onde continua a desempenhar um papel crucial em várias missões de mediação política.
No dia 27 de abril, durante uma reunião com o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, Zuppi reiterou o contínuo apoio da Igreja Católica aos projectos de desenvolvimento e à manutenção da paz no país.
Recentemente, o conclave iniciado à procura do novo Papa não chegou a um consenso, com fumo negro a indicar que os cardeais ainda não conseguiram eleger o sucessor de Francisco, que faleceu no final de abril, após 12 anos de pontificado marcado por popularidade e desafios internos.