Refletimos sobre as intenções da administração Trump em aumentar território, focando nos Açores e na crescente influência da China na região.
Desde que iniciou o seu mandato, em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mostrou-se interessado em expandir o território americano, destacando a Gronelândia e o controlo sobre o Canal do Panamá. A Dinamarca, por sua vez, tem demonstrado desinteresse em ceder aquele território autónomo, mas Trump continua a pressionar.
Em Portugal, os Açores, onde os Estados Unidos mantêm uma base militar localizada na Ilha Terceira, suscitam preocupações sobre uma potencial anexação por parte da administração Trump. Contudo, especialistas nacionais afirmam que "não existe perigo" e que essa é apenas uma "hipótese teórica".
Adérito Vicente, professor auxiliar de Relações Internacionais na Faculdade de Direito da Universidade Lusíada do Porto e investigador na Universidade Nova de Lisboa, explica essa perspectiva com três argumentos principais: a "relação histórica" entre Portugal e os Estados Unidos, a "não existência de barreiras comerciais significativas" e a crescente mas não suficiente "ameaça da China".
"A aliança entre os dois países é antiga e remonta ao período anterior à criação da NATO em 1949. Historicamente, essa é uma das relações mais duradouras na política externa. O consulado em Ponta Delgada, por exemplo, é o mais antigo do mundo", acrescenta Vicente.
Ao contrário da situação com a Gronelândia e o Canal do Panamá, os Açores não afetam rotas comerciais estratégicas dos EUA. "Os Açores não impõem restrições comerciais aos navios norte-americanos, como se comprova por diversos acordos bilaterais, incluindo o Acordo Técnico e Laboral das Lajes", explica Vicente.
O tema da Gronelândia não é novo para Trump; já o tinha abordado em 2019. Vítor Gabriel Oliveira, secretário-geral da SEDES Europa, considera que tanto a Gronelândia como os Açores "são situações distintas", mas que a possibilidade de anexação do arquipélago português pelo governo norte-americano "permanece uma hipótese teórica".
Oliveira destaca que os EUA possuem cerca de 750 bases militares fora do seu território e que dependem de aliados e localização estratégica para manter a sua posição como superpotência mundial. "Nos Açores, é crucial uma coordenação eficaz com as autoridades portuguesas”, sublinha o secretário-geral.
À medida que a presença militar norte-americana na Base das Lajes diminui, a influência da China na região tem aumentado, especialmente com investimentos em logística e agropecuária. Um exemplo é o projeto para o porto da Praia da Vitória na Ilha Terceira, onde um investimento chinês foi barrado devido à pressão americana. A China também investiu 50 milhões de euros na Ilha de Santa Maria, visando a construção de uma plataforma para lançamento de microsatélites. Esta colaboração destaca a crescente interdependência entre os Açores e Pequim.
No que diz respeito à Gronelândia, Adérito Vicente aponta duas estratégias possíveis: convencer a Dinamarca a vender o território ou persuasivamente aproximar a Gronelândia dos EUA, uma abordagem que a maior parte dos líderes gronelandeses prefere. Oliveira, por sua vez, acredita que a presença militar dos EUA na Gronelândia pode aumentar, mas nada sugere uma anexação. As intenções de Trump sobre o Canal do Panamá, em contraste, são "mais sensíveis", apontando para um interesse em aumentar o controle sobre rotas comerciais essenciais.