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A Influência Brasileira na Evolução do Português em Portugal

há 12 horas

O crescente número de imigrantes brasileiros está a transformar o panorama da língua portuguesa em Portugal, incentivando novas dinâmicas linguísticas e interculturais.

A Influência Brasileira na Evolução do Português em Portugal

Na sequência do Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado a 5 de maio, José Manuel Diogo, presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos, destacou a crescente onda migratória de brasileiros para Portugal e a sua repercussão nos âmbitos académico e comercial.

Diogo salienta a urgência de implementar "políticas públicas que garantam uma maior familiarização dos brasileiros com a cultura portuguesa antes da migração", evidenciando a preocupação com a influência cada vez maior do português do Brasil na língua falada pelos jovens em Portugal.

Entretanto, o responsável acredita que a língua se configura como um "território sem fronteiras", acentuando a sua natureza em transformação ao longo dos tempos, desde o galaico-português até ao latim. Ele recorda as palavras de Camões: "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

Com uma abordagem inclusiva, Diogo critica a resistência a diferentes variantes do português, nomeadamente ao português brasileiro, falado por cerca de 220 milhões de pessoas. Ele menciona a iniciativa da Academia Brasileira de Letras em dar voz a comunidades indígenas que utilizam o português como meio para preservar as suas línguas.

Além disso, Diogo sublinha a importância geopolítica do português, sendo uma das línguas oficiais da ONU e promovendo uma conexão entre os hemisférios. Ele propõe, ainda, um eixo econômico Norte-Sul que permita uma colaboração equitativa entre Portugal e o Brasil, defendendo que "o português e a língua portuguesa podem ser cruciais neste momento histórico".

Por sua vez, a linguista Helena Figueira, da Priberam, também conversou com a Lusa e ressaltou a relevância global do português como "língua de trabalho, comércio e língua franca".

Figueira reconhece a influência do português do Brasil no português europeu, mas enfatiza que esta interferência é menor do que a de outras línguas, como o inglês. Ela descarta a possibilidade de fusão entre as variantes, dada a preservação das suas particularidades.

A especialista partilha a visão de que a interação entre as variantes do português enriquece a língua, lembrando que a evolução da língua portuguesa é fruto de interações históricas.

Tanto Diogo como Figueira concordam que as dinâmicas entre as diferentes formas de falar português, impulsionadas pela migração e globalização, moldam o futuro da língua, assegurando a sua pertinência e adaptabilidade no mundo contemporâneo.

A presença significativa das comunidades brasileiras em Portugal tem impactado as escolas locais, onde, durante o ano letivo de 2019-2020, cerca de um terço dos alunos eram de origem brasileira, conforme indicado por João Pedro Aido, presidente da Associação de Professores de Português.

Aido argumenta que é essencial superar preconceitos linguísticos e reconhecer o direito dos alunos de usarem o português brasileiro, enquanto se ensina a norma culta do português europeu, validada pela literatura. Para ele, é crucial que os educadores conheçam as características das duas variantes, permitindo trabalhar textos de ambas e corrigir os alunos com rigor científico.

O especialista reforça que os desafios que surgem na educação requerem um "equilíbrio entre acolhimento linguístico e exigência acadêmica". Embora o programa de ensino de português já inclua a variação linguística, a revisão das aprendizagens essenciais poderia destacar ainda mais o "pluricentrismo da língua portuguesa".

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