Hoje, em Lisboa, dezenas de pessoas manifestaram-se pelo Dia Europeu da Vida Independente, clamando por acessibilidade nos transportes e habitação adaptada, enfatizando a luta por igualdade.
Hoje, Lisboa foi palco de uma manifesta jornada em que dezenas de pessoas com deficiência se reuniram para reivindicar direitos fundamentais relacionados à sua autonomia e inclusão social, numa clara oposição à caridade. A marcha ocorreu em celebração do Dia Europeu da Vida Independente, dia 5 de Maio, e chamou a atenção para a necessidade urgente de acessibilidade nos transportes públicos e de habitação adaptada.
O evento teve início na Avenida da Liberdade, próximo ao teatro Tivoli, onde as pessoas começaram a congregar a partir das 15:00. Diogo Martins, membro da Comissão Organizadora da Marcha pela Vida Independente (COMVI), partilhou com a agência Lusa que a manifestação tinha como propósito principal expor questões não resolvidas que afetavam os direitos das pessoas com deficiência em Portugal e promover uma maior consciencialização sobre a causa.
“É vital haver diferentes meios de atingir os responsáveis pela tomada de decisões”, sublinhou Diogo, que ainda mencionou que várias reivindicações são adaptadas a cada região. Em Lisboa, a luta inclui a melhoria da acessibilidade da rede de transportes, que actualmente enfrenta uma série de problemas que vão desde a falta de manutenção até a formação deficiente de profissionais.
Outro ponto crítico é o acesso a habitação adequada, dado que as opções disponíveis são, frequentemente, as mais dispendiosas. Paula Sequeira, que segurou um cartaz com a palavra "habitação", enfatizou que esta é uma das principais barreiras para as pessoas com deficiência, especialmente considerando as restrições que enfrentam no mercado de trabalho.
“É ainda raro sermos contratados com base nas nossas capacidades, mesmo tendo formações académicas”, lamentou Paula. A chuva não afastou os manifestantes, que também foram acompanhados por bandeiras da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), uma das 16 organizações que apoiaram a marcha, conforme destacou Jorge Falcato, ex-deputado do Bloco de Esquerda e membro da COMVI.
Falcato sublinhou que esta luta transcende as pessoas com deficiência, representando uma reivindicação mais ampla por direitos humanos que ainda estão ausentes. A marcha focou na vida independente, recordando que um projeto piloto que oferecia assistência pessoal durante cinco anos chegou ao fim há um ano, deixando milhares de pessoas sem apoio.
Atualmente, cerca de 3.000 pessoas aguardam assistência que deveria ser garantida pelo Governo. “Para que a vida independente seja viável, é imprescindível garantir o acesso à habitação, transporte, educação inclusiva e oportunidades de emprego, além de assistência pessoal”, defendeu um outro participante.
Entre os presentes, estava Ana Santos, assistente pessoal que deixou um emprego anterior por vocação a ajudar os outros. “Esta profissão ainda não é reconhecida, mesmo que tenhamos um papel vital na vida das pessoas com deficiência”, afirmou. Gisela Valente, também presente, apontou as falhas na acessibilidade em Lisboa e alertou para a necessidade de políticas de inclusão mais robustas, sublinhando que “não somos coitadinhos; não queremos sê-lo”.
Durante a marcha, alguns políticos, como António Filipe do PCP e Mariana Mortágua do BE, juntaram-se ao protesto e expressaram apoio às reivindicações. Após a concentração na Avenida da Liberdade, o grupo deslocou-se até ao Rossio, onde foi lido um manifesto que já conta com o apoio de cerca de 30 organizações e 150 indivíduos.
Desde 2018, a Marcha pela Vida Independente visa dar visibilidade à luta das pessoas com deficiência, promovendo a sua realidade e reivindicando direitos que são essenciais para uma vida digna.