Sócrates responsabiliza Costa por silêncio sobre Manuel Pinho
José Sócrates confrontou António Costa, ex-primeiro-ministro, por não ter esclarecido que foi ele quem o apresentou a Manuel Pinho, acusando-o de covardia durante o julgamento da Operação Marquês.

José Sócrates não hesitou em apontar o dedo a António Costa, seu predecessor, durante a sua saída do tribunal, acusando-o de covardia por permanecer em silêncio sobre uma verdade que considera fundamental. "Eu convoco António Costa para que esta verdade seja clara. Foi ele quem me apresentou Manuel Pinho, e não o Ricardo Salgado", afirmou Sócrates, lamentando o silêncio do ex-primeiro-ministro ao longo dos anos.
Para o antigo governante, a postura de Costa representa uma falta de coragem, reconhecendo que o distanciamento entre ambos causou-lhe "algum sofrimento no passado", mas frisando que isso já faz parte de "águas passadas".
A acusação do Ministério Público (MP) sugere que Pinho, ministro da Economia durante o governo de Sócrates, foi escolhido pelo ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, para influenciar decisões do governo em benefício dos seus interesses. Sócrates garantiu que a sua relação com Pinho começou apenas após a apresentação feita por Costa.
Ao abordar o julgamento, Sócrates revelou que sentiu uma forte sensação de déjà-vu, sublinhando que já havia provado a sua inocência na fase de instrução. Ele criticou a legalidade do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, que fundamenta a atual acusação, afirmando que "não pode ser encarado como um despacho de pronúncia".
"A Relação não pode pronunciar ninguém a menos que seja procurador ou juiz. Eu não sou nem uma coisa nem outra. Portanto, não posso ser pronunciado pela Relação, como as juízas pretendem. Isso é um embuste", declarou Sócrates.
De acordo com o ex-primeiro-ministro, a acusação resultou de um "lapso de escrita" da parte do MP, o que, segundo ele, altera a qualificação dos crimes apenas para justificar o julgamento. "Tudo isto tem um objetivo: humilhar", afirmou, reforçando a ideia de que a sua batalha judicial tem por trás um espetáculo de humilhação.
Com os 11 anos desde a sua detenção no aeroporto de Lisboa, iniciou-se o julgamento da Operação Marquês, onde o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos enfrentam 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Estão previstas 53 sessões até ao final do ano, com a audição de 225 testemunhas chamadas pelo MP e aproximadamente 20 pela defesa.