Primeira coordenadora de intimidade em Portugal promove bem-estar emocional em filmagens
Helena Canhoto, a pioneira em coordenação de intimidade em Portugal, defende a importância do papel para a saúde mental de atores e para a autenticidade em cenas sensíveis.

Helena Canhoto apresenta-se como a primeira profissional portuguesa com certificação na área de coordenação de intimidade, uma função que julga crucial para aumentar o realismo em filmagens que envolvem nudez e interações íntimas. Dividindo a sua carreira entre Portugal e o Canadá, Canhoto, que também é atriz e reconhecida por trabalhos nas séries “Mulheres Assim” e “Ministério do Tempo”, formou-se na IDC - Intimacy Directors Coordinators, obtendo a sua certificação através do sindicato de atores dos EUA.
No âmbito do FEST -- Festival Novos Realizadores Novo Cinema, a coordenadora irá liderar uma oficina onde discutirá os benefícios de se ter um profissional especializado em intimidade nos setores do cinema, televisão e teatro. Embora Canhoto tenha notado uma certa resistência à integração desses especialistas, especialmente por parte das produções que alegam falta de orçamento, acredita que a função ganhará terreno de forma gradual e definitiva.
“Muitos atores e realizadores demonstram interesse em contratar um coordenador de intimidade. A verdadeira resistência vem do setor de produção, que muitas vezes diz que não tem orçamento para isso," afirmou em entrevista à Lusa. “No entanto, há profissões que enfrentaram a mesma resistência no passado, como diretores de casting ou coordenadores de duplos, e hoje são consideradas indispensáveis”, sublinhou.
Canhoto compartilhou experiências da sua própria carreira ao lembrar que, durante anos, a realização de cenas de nudez foi uma fonte de grande desconforto. “Interagir fisicamente e fazer cenas de nudez sempre foi algo que me deixou paralisada. Num projeto específico, tive que simular preliminares com o namorado de uma amiga, o que resultou numa situação extremamente constrangedora,” confessou.
Foi apenas após receber formação de Stéphanie Breton no Canadá que a atriz começou a ver a intimidade sob uma nova luz. “Ela apresentou uma abordagem ao trabalho que me apaixonou. Percebi que existe uma coreografia que pode ser definida para tornar essas cenas mais realistas e menos constrangedoras, embora o desconforto nunca desapareça totalmente,” explicou.
As técnicas aprendidas incluem o uso de respiração controlada, posicionamento estratégico e a utilização de vestuário técnico, tudo orientado por um coordenador que garante um ambiente mais seguro e colaborativo. “Por exemplo, em um projeto, a primeira cena com o ator que interpretava meu namorado era um beijo com língua, o que não fazia sentido. Com o apoio da coordenadora de intimidade, consegui expressar minha preocupação e conseguir uma alteração imediata.”
Helena Canhoto reafirma a importância do seu papel, não apenas para o bem-estar dos atores, mas também para toda a equipa em set. “As inibições e desconfortos nas cenas de intimidade podem provocar ansiedade e frustração, afetando todos os envolvidos. O meu trabalho visa prevenir problemas psicológicos e melhorar a eficiência das filmagens. Ao compreenderem o valor do coordenador de intimidade, os produtores também perceberão as vantagens estratégicas desta contratação, incluindo acesso a fundos europeus específicos,” concluiu.