Economia

O Escudo de Cabo Verde: Moeda de Identidade e Memória Coletiva

No arquipélago, o escudo evoluiu de símbolo colonial para emblema nacional, refletindo a história e a cultura cabo-verdianas na quotidianidade e nas relações comerciais.

29/06/2025 06:15
O Escudo de Cabo Verde: Moeda de Identidade e Memória Coletiva

No arquipélago de Cabo Verde, o escudo, embora tenha raízes coloniais, foi capaz de emancipar-se junto com o país, tornando-se um símbolo nacional com um acordo cambial estabelecido com Portugal. Na Praia, a capital, a moeda continua a ser um marco de identidade, sendo utilizada no dia-a-dia por muitos, como Valita Moniz, uma vendedora de 53 anos no Mercado Municipal que afirma: "o nosso escudo é a nossa marca."

Valita, após três décadas a vender produtos frescos, refere que já está habituada a fazer contas usando tanto escudos como "contos". Esta moeda representa para ela e muitos outros não apenas uma unidade monetária, mas uma parte da sua história e cultura. "Para mim representa muito, é passado e presente", diz. A transição do Banco Nacional Ultramarino para o Banco de Cabo Verde, após a independência em 1975, marcou um ponto de viragem na circulação do escudo, que ganhou identidade com a emissão de notas e moedas locais a partir de 1977.

Com a denominação de escudo cabo-verdiano, que agora é identificada internacionalmente pela sigla CVE, a moeda coexiste com o euro, que aparece sobretudo nas transações turísticas. Valita partilha a sua experiência: "Aqui também aparecem euros, mas no dia-a-dia, usamos escudos." Inês Moreira, vendedora de 58 anos, relembra as mudanças monetárias ao longo dos anos, observando que "qualquer criança com dois anos já sabe o que são moedas de cinco ou dez escudos."

Doriva Cruz, um dos poucos homens entre as vendedoras do mercado, recorda os primeiros escudos de papel com o retrato de Amílcar Cabral, um ícone da luta pela independência. Para ele, o escudo é um símbolo dessa conquista. O economista António Batista explica que, enquanto muitos países mudaram frequentemente de moeda devido a crises económicas, Cabo Verde manteve o escudo, o que demonstra estabilidade. "Em Cabo Verde, a inflação nunca foi um problema grande, permitindo que a denominação se mantivesse ao longo dos anos", afirma.

A assinatura do acordo cambial em 1998 entre os bancos centrais de Portugal e Cabo Verde, cimentou a estabilidade do escudo cabo-verdiano, que agora está fixado em relação ao euro. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, elogiou a estabilidade do país durante uma visita, ressaltando que o acordo é essencial para controlar variáveis económicas, como a inflação. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, também destacou este acordo como um fator crucial de confiança e estabilidade.

O economista Batista conclui que a manutenção de uma moeda por um longo período é um sinal de segurança e compromisso por parte do governo, algo que Cabo Verde consegue simbolizar com orgulho através do seu escudo.

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