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Nuno Portas: Um legado de inovação e cidadania na arquitetura

O arquiteto e pensador Nuno Portas, que faleceu aos 90 anos, deixou uma marca indelével nas políticas urbanas e na defesa do direito à habitação em Portugal e no mundo.

27/07/2025 18:38
Nuno Portas: Um legado de inovação e cidadania na arquitetura

Nuno Rodrigo Martins Portas, uma figura incontornável na cultura portuguesa, faleceu hoje aos 90 anos. Nascido a 23 de setembro de 1934, em São Bartolomeu, Vila Viçosa, Portas foi um arquiteto, investigador e defensor incansável de políticas habitacionais justas, tanto em Portugal como no estrangeiro, destacando-se especialmente em Espanha e no Brasil.

Desde o início da sua carreira, Portas demonstrou uma profunda preocupação com os direitos dos cidadãos à habitação condigna e à cidade. Em 1974, após o 25 de Abril, tomou posse como secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, onde criou o Serviço de Apoio Ambulatório Local, em resposta às carências sociais que emergiram num país marcado por anos de ditadura. Manteve ao longo da sua vida uma firme defesa pelo "direito à cidade".

Portas graduou-se em arquitetura em 1959, nas Escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto, tendo iniciado o seu percurso profissional em 1957, na oficina de Nuno Teotónio Pereira, um dos arquitetos mais respeitados da sua época. Juntos, trabalharam em projetos inovadores, como os bairros dos Olivais, até 1974, período em que Nuno Portas consolidou o seu saber e envolvimento na renovação da arquitetura nacional.

Destacou-se também como um influente teórico, assumindo o cargo de diretor da revista Arquitectura e contribuindo decisivamente para o pensamento crítico sobre espaço urbano. Durante a sua trajetória, Portas escreveu extensivamente sobre a obra do arquiteto Álvaro Siza e coordenou importantes estudos no Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Além da atividade académica, que o levou a lecionar em instituições de renome internacional, deixou um legado indiscutível no planeamento urbano, tendo colaborado em projetos de significativa relevância, como o plano do campus da Universidade de Aveiro e a Expo 98. A sua visão humanista enfatizava a interligação entre a qualidade arquitetónica e as necessidades sociais, sustentando que a habitação digna é essencial ao direito à cidade.

A notoriedade de Nuno Portas não se limitou ao campo da arquitetura; ele também se destacou como cineasta amador, tendo realizado uma curta-metragem que retratou aspectos do serviço militar na década de 1950. A sua ligação ao cineclubismo e à crítica cinematográfica evidencia a sua erudição e espectro de interesses.

Nuno Portas, que deixa três filhos – Paulo, Miguel e Catarina – e um vasto legado de obras e pensamentos, foi agraciado com diversas distinções, incluindo Doutoramento Honoris Causa e o Prémio Sir Patrick Abercrombie, sublinhando a sua influência indelével na arquitetura e urbanismo e a sua luta constante pela valorização da cidadania.

A sua obra e visão sobre a arquitetura permanecem como um testemunho do compromisso com a transformação social e a defesa dos direitos urbanísticos. Em suas palavras: “A arquitetura é uma arte de grandes permanências e de responsabilidade”.

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