Mariana Mortágua encontrou-se com Adelina e Fernanda, trabalhadoras domésticas que, apesar da sua importância, permanecem muitas vezes invisíveis. A luta por reconhecimento e direitos é mais urgente do que nunca.
Quando o relógio marcava 5h20, Adelina Fortes, de 62 anos, e Fernanda dos Santos, com 48, deslizavam pela rua Maria Lamas, na Damaia, concelho da Amadora, prontas para mais um dia de trabalho multifacetado.
Adelina levantou-se às 4h30 para iniciar o seu primeiro trabalho às 6h00, recebendo cerca de 300 euros mensais, antes de se dirigir ao seu próximo emprego. À sua espera para apanhar o autocarro 711 da Carris estava a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que dedicou o seu terceiro dia de campanha às dificuldades enfrentadas por trabalhadores por turnos, em particular as empregadas domésticas.
"Nós somos a base do mundo. Sem o trabalho de limpeza, não há Assembleia, não há primeiro-ministro," ressaltou Fernanda, antes de ser apressada por Adelina para não perder o autocarro.
Pressina, as duas correram para a paragem, pois cada minuto de atraso poderia significar uma perda de rendimento. Adelina, originária de Cabo Verde, foi a primeira a entrar, surpreendendo Mortágua com a sua velocidade: "Isso foi uma verdadeira corrida!" exclamou a coordenadora.
À medida que o autocarro seguia rumo às Portas de Benfica, várias mulheres, em sua maioria imigrantes, foram-se sentando junto de Adelina e Fernanda. Mariana Mortágua afirmou: "Numa sociedade que fala tanto de meritocracia, ninguém merece mais reconhecimento do que uma mulher que se levanta às 4h30 da manhã e viaja três autocarros para limpar casas e cuidar dos filhos."
Uma das principais bandeiras do BE nesta campanha é a defesa dos trabalhadores por turnos. O partido propõe um subsídio de pelo menos 30% sobre o salário base, a antecipação da idade de reforma, dois fins de semana de descanso a cada seis semanas, e um mínimo de 24 horas de descanso entre turnos.
O Bloco de Esquerda também exige que as leis reconheçam as trabalhadoras domésticas, garantindo-lhes contratos, descontos para a Segurança Social, baixas quando necessário e salários compatíveis com o salário mínimo. "São essas pessoas que a extrema-direita tenta espezinhar, acusando-as de não terem mérito," observou Mortágua.
No segundo autocarro, o 758, Mortágua encontrou Iolanda Monteiro, uma defensora do PS, que também acorda às 04:00 para realizar limpezas em Campolide. Com um saco de compras em mão, Iolanda desabafou: "Vocês têm tacho no parlamento e o meu tacho está aqui."
Iolanda, que votará no PS, concluiu com uma crítica sobre a greve da CP: "Como vamos trabalhar? Não conseguimos fazer teletrabalho com pá e vassoura."
A viagem da comitiva bloquista terminou próximo à Igreja de Benfica, com Adelina a seguir no autocarro 729 para a Ajuda, rumo a mais um dia de um "trabalho invisível", mas essencial.