Consultámos uma especialista em gaguez para desmistificar a crença de que sustos podem levar a esta dificuldade de fala.
É comum entre crianças ouvirem advertências como: "Não faças isso, o teu irmão pode ficar gago." Mas até que ponto esta crença popular tem fundamento?
A médica Susana Belo, especialista em gaguez, esclarece que "não, um susto isolado não é suficiente para causar gaguez." Este distúrbio é, na verdade, uma condição complexa que se desenvolve na infância devido a uma combinação de fatores.
Segundo Susana, entre os factores que influenciam a gaguez estão os aspectos neurobiológicos, como a maneira como o cérebro processa a fala, os antecedentes genéticos, já que muitas pessoas com gaguez têm familiares com o mesmo problema, e até questões motoras e linguísticas, que incidem em momentos em que as crianças começam a elaborar frases mais complexas.
Ao explicar a origem deste mito, Susana afirma que "é uma tentativa de dar sentido a algo que parecia inexplicável, especialmente numa época em que se sabia pouco sobre o cérebro e a linguagem.” Porém, com as descobertas científicas actuais, a situação revela-se bem mais complexa.
A especialista ressalta que, embora a gaguez possa parecer surgir repentinamente, geralmente há uma predisposição neurológica ou genética. Um evento emocional intenso, como um forte susto, pode surgir como um gatilho, fazendo com que a condição se manifeste ou se intensifique. Entretanto, a associação entre o susto e a gaguez é um erro, já que este último não surge de forma absolutamente isolada.