Madeira planeia usar drones para replantar áreas devastadas por incêndios
O Instituto de Florestas e Conservação da Natureza da Madeira avança com a possibilidade de empregar drones para disseminar sementes em zonas de difícil acesso afetadas pelo incêndio de agosto de 2024.

A Madeira está a considerar a utilização de drones no processo de reflorestação das áreas que sofreram danos significativos devido ao incêndio que assolou a ilha entre 14 e 26 de agosto de 2024. Segundo o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN), esta iniciativa visa lançar sementes em terrenos que são de difícil acesso.
No intuito de superar as limitações de acesso, o IFCN encontra-se a investigar e a testar a técnica de ‘bolas de semente’, que são compostas por substratos protetores e misturas de sementes adaptadas às condições ecológicas da região. Esta estratégia tem o objetivo de facilitar a recuperação de áreas que, devido à sua localização, são praticamente inacessíveis.
O incêndio, que se manteve ativo durante 13 dias, consumiu cerca de 5.116 hectares nos concelhos da Ribeira Brava, Ponta do Sol, Câmara de Lobos e Santana. A maior parte da zona afetada apresenta declives acentuados, com 84% da área queimada a possuir inclinações superiores a 50% e a localizar-se em encostas de difícil acesso.
A implementação de drones para a recuperação ecológica ainda requer um estudo preliminar que permita a seleção das sementes mais adequadas para estas áreas. As 'bolas de semente' seriam então lançadas em locais que, de outra forma, seriam desafiadores para o replantio tradicional.
O IFCN refere que esta abordagem faz parte de um plano de recuperação ecológica integrado que considera as especificidades geomorfológicas da Madeira, promovendo um regresso ao ecossistema com o menor impacto possível sobre a biodiversidade local.
Após o incêndio do ano transato, o IFCN desenvolveu um "plano de estabilização de emergência", focando-se primeiro numa área de cinco hectares que apresentava maior sensibilidade. Este plano inicial incluiu a remoção de vegetação queimada e a instalação de barreiras físicas para proteção do solo.
Além disso, foram elaborados projetos de intervenção e reflorestação, num investimento que ronda os 1,4 milhões de euros e que prevê a plantação de 170 mil novas plantas.
O incêndio de 2024, que afetou também 139 hectares de floresta laurissilva, um Património Mundial, gerou preocupações em torno dos ninhos da freira-da-madeira, uma ave marinha ameaçada. Contudo, a IFCN assegura que os ninhos permaneceram intactos, dado que a área ardida faz parte da Rede Natura 2000 e está situada em regiões de difícil acesso.
Diante do grave impacto do incêndio, a IFCN implementou uma monitorização contínua das áreas afetadas para avaliar a recuperação natural da vegetação e planejar ações adicionais que possam acelerar o processo de regeneração.
O incêndio teve início nas serranias do município da Ribeira Brava e, antes de ser declarado extinto no dia 26 de agosto, mobilizou mais de mil operacionais e recursos significativos, incluindo helicópteros e aviões Canadair. Apesar da gravidade, não se registaram feridos nem danos nas infraestruturas, embora cerca de 200 agricultores e 41 criadores de gado tenham declarado prejuízos.
A evacuação de 120 moradores da Fajã das Galinhas, uma área remota, foi uma das consequências mais diretas do incêndio, tendo estes permanecido em realojamento temporário devido à instabilidade da região. A situação da escarpa ainda se mantém crítica, com as autoridades a trabalharem na segurança da área.
O incêndio provocou, ainda, a constituição de uma comissão de inquérito na Assembleia Legislativa da Madeira para apurar responsabilidades, embora os trabalhos tenham sido interrompidos em janeiro de 2025 e não tenham sido retomados desde então.