Economia

Impacto da Hiperconectividade nos Trabalhadores e nas Empresas

Especialistas alertam para as consequências negativas da hiperconectividade no ambiente de trabalho, sublinhando a necessidade urgente de desconexão para proteger a saúde mental e física dos colaboradores.

28/06/2025 06:45
Impacto da Hiperconectividade nos Trabalhadores e nas Empresas

A hiperconectividade no local de trabalho está a ter efeitos prejudiciais tanto para os trabalhadores quanto para as empresas. Um relatório global da Microsoft, que analisou a utilização de ferramentas digitais por 31.000 trabalhadores em 31 países, revela que o funcionário médio recebe, diariamente, 117 e-mails e 153 mensagens no Teams.

Durante o horário laboral, os colaboradores enfrentam interrupções frequentes, sendo interrompidos em média a cada dois minutos, totalizando cerca de 275 interrupções diárias, provenientes de reuniões, e-mails e notificações de chat. Este estudo baseia-se em dados de produtividade anónimos do Microsoft 365.

A hiperconectividade também estende o horário de trabalho. Segundo a análise, 40% dos colaboradores verificam os seus e-mails antes das 06h00 e há um aumento da atividade à noite, com 29% a consultarem e-mails por volta das 22h00.

Na França, um estudo da Viavoice para a consultora de saúde Verbateam indica que 65% dos trabalhadores se consideram viciados em tecnologia. A empresa tomou medidas para restringir a conectividade, afetando apenas 16% dessas pessoas. Além disso, três quartos dos entrevistados relatam ter experimentado efeitos adversos do uso digital, incluindo distúrbios do sono (76%), dificuldades de concentração (77%) e uma sensação de pressão constante (78%).

A CEO da Verbateam, Flore Serré, sublinha que "não só estamos a ver este fenómeno a piorar, como também existe uma tendência preocupante em banalizar e até valorizar a hiperconectividade nos negócios". A especialista destaca que este vício se manifesta como uma necessidade compulsiva e perda de controlo sobre o uso das ferramentas digitais.

Isabelle Tarty, presidente da Federação Francesa de Trabalhadores em Risco Psicossocial, notou que empresas de serviços são mais afetadas do que aquelas que operam em turnos, mencionando casos de motoristas de transportes públicos que também lidam com e-mails após o trabalho.

Surpreendentemente, Flore Serré afirma que as gerações mais jovens não são as mais afetadas, sendo a faixa etária entre 35 e 45 anos a mais impactada, enquanto os jovens têm uma visão mais equilibrada da situação.

O direito à desconexão, apesar de algumas convenções nas empresas, ainda não é eficaz. Um inquérito recente do Sindicato dos Gestores e Técnicos da CGT (UGICT) revela que 67% dos gestores desejam um direito efetivo à desconexão, um aumento de 11 pontos percentuais em relação a 2016.

Independentemente dos estatutos existentes, os colaboradores têm o direito de não ser contactados fora do horário de trabalho, como destaca a advogada de direito do trabalho da Voltaire Avocats, Pauline Mureau. Contudo, ela frisa que as pausas nem sempre são respeitadas, o que pode originar conflitos com grandes repercussões para os empregadores.

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