O secretário-geral da ONU apela aos Estados-membros para restaurar a ajuda humanitária, responsabilizar os culpados e assegurar que o direito internacional seja respeitado na crise de Gaza.
Num discurso impactante perante o Conselho de Segurança da ONU, António Guterres apelou aos Estados-membros para que usem a sua influência e garantam o respeito pelo direito internacional, pondo fim à impunidade que assola a guerra em Gaza.
O chefe da organização destacou a necessidade de assumir responsabilidades em todos os níveis, referindo-se ao incidente de 19 de março – agora reconhecido por Israel – no qual um disparo atingiu uma instalação da ONU, ceifando uma vida e deixando seis feridos. Guterres relembrou ainda o trágico episódio em Rafah, no dia 23 de março, onde paramédicos e outros socorristas foram alvos letais.
Expressando profunda preocupação, o secretário-geral criticou declarações de membros do Governo israelita que utilizam a ajuda humanitária como instrumento de pressão militar. Segundo ele, “a assistência não é negociável”, sendo imperativo que Israel proteja a vida dos civis e assegure a segurança dos trabalhadores da ONU e dos parceiros humanitários, restabelecendo imediatamente a entrada de mantimentos vitais.
O discurso denunciou também o bloqueio prolongado de alimentos, combustível, medicamentos e outros produtos essenciais, que afeta mais de dois milhões de pessoas em Gaza, agravando a já insustentável situação humanitária na região.
Além disso, Guterres exigiu a libertação imediata dos reféns retidos pelo Hamas e alertou sobre o risco iminente da solução de dois Estados desaparecer, caso os extremismos e a falta de compromisso político continuem a dominar.
O líder da ONU sublinhou que a paz sustentável depende da resolução deste conflito, e que as condições desumanas impostas aos palestinianos, tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia, não podem ser ignoradas pela comunidade internacional.
Concluindo, o secretário-geral celebrou a proximidade da Conferência de Alto Nível, em junho, copresidida pela França e pela Arábia Saudita, como uma oportunidade crucial para revitalizar o processo de paz e implementar medidas efetivas contrárias à continuação da violência e da ocupação.
A guerra, desencadeada após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, resultou em perdas humanitárias devastadoras para ambos os lados, com milhares de mortos e a destruição de infraestruturas essenciais em Gaza.