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Estudo revela alarmantes níveis de ideação suicida entre jovens em Lisboa

Uma pesquisa com 900 adolescentes da Área Metropolitana de Lisboa indica que 30% já se autolesionaram. Apenas 13% procuraram apoio, evidenciando um sofrimento profundo e invisível.

03/07/2025 17:25
Estudo revela alarmantes níveis de ideação suicida entre jovens em Lisboa

Um novo estudo realizado na Área Metropolitana de Lisboa, envolvendo 900 jovens com uma média de idade de 15 anos, expôs uma realidade preocupante: cerca de 30% dos adolescentes inquiridos já se autolesionaram. Destes, 7% confessaram ter tentado acabar com a própria vida pelo menos uma vez, e apenas 13% procuraram ajuda.

A pesquisa, liderada pela psicóloga Maria de Jesus Candeias, revelou que a maioria dos jovens enfrentou pensamentos suicidas, com cerca de metade apresentando níveis moderados de ideação suicida e 18% a afirmar que "pensam diariamente em morrer". Candeias sublinhou que o propósito da investigação era analisar a prevalência de comportamentos autolesivos e suicidários e explorar os fatores que contribuem para estas questões, de modo a fomentar a sua prevenção.

A psicóloga expressou preocupação com o elevado número de jovens que não buscam auxílio. "É alarmante que apenas 13% tenham recorrido a pais ou professores. Isso mostra que estamos a lidar com um problema que permanece invisível", enfatizou. De acordo com Candeias, muitos dos comportamentos autolesivos são uma forma de lidar com dores emocionais intensas, especialmente quando não existe um espaço seguro para os jovens se expressarem.

A investigação indicou também que situações familiares desequilibradas, caracterizadas por falta de afeto e fracas ligações, exercem uma influência significativa sobre a capacidade dos jovens de gerir as suas emoções. Laços familiares frágeis podem contribuir para sentimentos de solidão e desconexão, enquanto famílias excessivamente rígidas podem fazer com que os jovens se sintam pressionados e incompreendidos.

Maria de Jesus Candeias, que conduziu este estudo no âmbito do seu doutoramento em Psicologia Clínica no ISPA - Instituto Universitário, defendeu que é crucial que as famílias melhorem a comunicação e estejam atentas a estes sinais de sofrimento. "Precisamos de reconhecer que as famílias estão desconectadas, e os jovens carecem de apoio e compreensão", alertou.

Ela também destacou a importância das escolas no monitoramento e identificação de sinais de alerta, embora tenha encontrado "barreiras significativas" para aceder a esses ambientes, refletindo o estigma que ainda rodeia a saúde mental na adolescência. O silêncio, afirma, não oferece proteção, mas sim isolamento.

As taxas de comportamentos autolesivos entre jovens aumentaram significativamente nas últimas duas décadas, com uma notável diferença entre os períodos pré e pós-pandemia. Segundo Candeias, é urgente criar programas terapêuticos que incluam a família, promovam diagnóstico e intervenção precoces, e integrem terapia individual e suporte especializado. "A escola, a família e a comunidade devem ser espaços seguros para que esse sofrimento possa ser exposto e tratado", concluiu.

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