'As Aventuras do Angosat', a primeira obra musical angolana, será lançada no Festival de Cinema Africano em Nova Iorque a 18 de maio e chegará a Portugal e Angola em junho.
O inovador filme musical angolano, intitulado 'As Aventuras do Angosat', fará a sua estreia mundial a 18 de maio durante o Festival de Cinema Africano em Nova Iorque, com uma chegada prevista a Portugal e Angola no mês seguinte.
Idealizada por Isis Hembe, a obra é descrita como uma "ópera hip hop" e tem como inspiração o lançamento do Angosat, o primeiro satélite do país, que misteriosamente desapareceu no espaço após a sua colocação em órbita.
No filme, Isis Hembe interpreta a figura de Man Ré, um cientista que se aventura no espaço em busca de vida inteligente, mas acaba por refletir sobre a necessidade de encontrar essa mesma inteligência dentro de nós. "É um convite à introspecção", revela o artista à agência Lusa.
Inicialmente concebido como uma peça teatral, a história foi adaptada para um formato cinematográfico pelo realizador Marc Serena, um jornalista catalão famoso por documentários de sucesso como "Tchindas" e "O escritor de um país sem livrarias".
A direção do filme conta com a colaboração de Resem Verkron, membro do coletivo de arte de rua Verkron, que também dirigiu curtas-metragens focadas na masculinidade tóxica, como "Lola & Mami". Este projeto de 34 minutos, ambientado nas ruas do Cazenga em Luanda, combina batidas urbanas com o tradicional quissanje, um instrumento musical angolano.
Isis Hembe destacou que a narrativa do filme reflete uma sociedade angolana diversificada, onde diferentes culturas e sensibilidades se entrelaçam. A seleção do elenco também é significativa, principalmente pelo fato de a maioria dos atores, incluindo Hembe, que é cadeirante, ser composta por indivíduos com capacidades distintas, como o dançarino Scott Suave, que apesar da perda de um braço e uma perna, continua a dançar.
Com um passado marcado pela poliomielite, Hembe não pôde ter acesso a tratamento devido à guerra civil que assolou Angola entre 1975 e 2002. Para ele, a inclusão da diferença é essencial na construção de um Angola mais coletivo e solidário, permitindo que o filme seja um projeto político de inclusão.
Além dos diálogos em múltiplas línguas, o filme também incorpora a língua gestual angolana, usada por dois dos atores, Celeste Wacalenda e Domingos Malebo, e uma versão da célebre canção Umbi-umbi, cantada em Umbundu, língua de origem angolana.
Após a apresentação em Nova Iorque, com uma sessão de perguntas e respostas com Isis Hembe, o filme será exibido em Portugal a 7 de junho no FEStin, um festival de cinema itinerante que promove produções dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A estreia em Angola está agendada para 20 de junho, com uma exibição gratuita no Cine São Paulo, um dos maiores cinemas de Luanda.