Economia

Carvalho da Silva clama por discussão pública sobre os retrocessos sociais

O economista Manuel Carvalho da Silva defende a necessidade de um amplo debate social antes de considerar uma greve geral, alertando para o retrocesso nas condições laborais e sociais.

há 6 horas
Carvalho da Silva clama por discussão pública sobre os retrocessos sociais

Manuel Carvalho da Silva, economista e ex-líder da CGTP, expressou a sua preocupação em relação ao que considera ser um "profundo retrocesso" nas condições de trabalho e na vida social em Portugal. Em declarações à Lusa, ressaltou que, antes de se pensar numa greve geral, é fundamental promover um grande debate na sociedade sobre as implicações das recentes mudanças.

“Não é o momento para realizar uma greve geral. O foco agora deve ser identificar as consequências a longo prazo das alterações que estão a ser impostas. Uma greve não pode ser feita sem antes esclarecer a sociedade,” afirmou Carvalho da Silva.

Na sua coluna no Jornal de Notícias, o economista recordou a greve geral de 1988, que uniu a CGTP e a UGT, referindo que as experiências passadas podem servir de inspiração para os atuais desafios. Ao ser questionado sobre o eventual apoio a uma greve geral, Carvalho da Silva reiterou que, neste momento, é necessária uma “grande ação de esclarecimento” sobre a “agenda regressiva” do Governo e dos diversos sectores sociais. Ele argumentou que a narrativa contemporânea depende de “argumentos falsos”.

Um dos pontos que destacou é a ideia errada de que só é possível melhorar as condições de vida através do crescimento económico. Para ele, o crescimento deve ser acompanhado de uma distribuição equitativa da riqueza, para que alcance quem realmente necessita.

Carvalho da Silva também criticou o discurso governamental que promete “mais dinheiro no bolso das famílias”, considerando-o vazio, dado o agravamento das condições de vida e a ilusão de que isso poderia ser conseguido à custa da segurança social.

“Com um aumento de 16% nos preços da habitação, quanto é necessário aumentar os salários apenas para compensar isso?” questionou. Além disso, alertou para a perigosa ilusão de diluir subsídios de Natal e férias nos salários mensais, argumentando que essa estratégia acabaria por penalizar os trabalhadores a médio e longo prazo.

O economista recordou que os subsídios foram instituídos para atender a necessidades específicas e que, ao incluí-los nos ordenados, pode-se rapidamente perder esse benefício. Carvalho da Silva criticou ainda a propaganda em torno dos impostos, afirmando que prejudica sobretudo os mais pobres e que é falso dizer que Portugal é contra a iniciativa privada, sublinhando que, na verdade, é mais fácil ser empresário do que trabalhador qualificado.

Ele concluiu que, dada a especialização da economia portuguesa, que privilegia a especulação na habitação e a mercantilização da saúde, não estão a ser promovidas melhorias reais nas vidas das pessoas. “Estas distorções estão profundamente enraizadas na sociedade e requerem um longo e persistente combate,” afirmou, apelando à necessidade de uma visão estratégica para construir alianças e sustentar lutas, incluindo possíveis greves gerais.

Por sua vez, a CGTP acusou o Governo de preparar um “assalto aos direitos laborais” e alertou que, caso se avança com restrições ao direito à greve, não hesitará em convocar protestos significativos. O atual secretário-geral, Tiago Oliveira, anunciou o início de um processo de mobilização nas estruturas sindicais para preparar uma resposta adequada à situação. “Não descartaríamos qualquer forma de luta que proteja os interesses dos trabalhadores,” afirmou.

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